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ANÁLISE
Por que os EUA vencerão a batalha mundial do câmbio
MARTIN WOLF
DO "FINANCIAL TIMES"
O câmbio dominou as reuniões deste ano do Fundo
Monetário Internacional.
Mais precisamente, duas
moedas o fizeram: o dólar
e o yuan.
O primeiro, por ser considerado fraco demais; o segundo, por ser considerado
como excessivamente inflexível. Mas, por trás das disputas, existe um grande desafio: como administrar de
maneira eficiente o ajuste
econômico mundial?
Em seu prefácio para a nova "Perspectiva Econômica
Mundial", Olivier Blanchard,
conselheiro econômico do
FMI, afirma: "Obter uma "recuperação mundial forte,
equilibrada e sustentada"
não será fácil. Serão necessárias duas manobras difíceis e
fundamentais para o reequilíbrio econômico".
A primeira envolve reequilibrar a situação interna nos
países desenvolvidos, voltar
a depender da demanda privada e reacomodar os deficit
fiscais criados pela crise.
A segunda envolve reequilibrar a situação externa,
com maior dependência
quanto a exportações líquidas, por parte dos EUA e de
alguns países avançados, e
maior dependência quanto à
demanda interna, por parte
de alguns países emergentes,
especialmente a China.
Infelizmente, conclui o
professor Blanchard, "essas
duas manobras de reequilíbrio estão acontecendo devagar demais".
Podemos reconsiderar esse processo de reequilíbrio
em duas dimensões.
Primeiro, os países avançados, até recentemente perdulários e hoje ostentando
deficit elevados, precisam reduzir o endividamento de
seus setores privados.
Segundo, as taxas reais de
câmbio das economias com
posições externas robustas
precisam subir, com uma expansão na demanda interna
servindo para compensar o
arrasto consequente nas exportações líquidas.
Uma política monetária
agressiva da parte dos países
emissores de moedas de reserva, especialmente os
EUA, é parte de ambos os
processos.
Os gemidos de dor agora
ouvidos em todo o mundo à
medida que os mercados
pressionam as moedas em
relação ao dólar refletem, em
parte, o impacto desigual da
política norte-americana.
Mas refletem ainda mais a teimosia quanto a aceitar as
mudanças necessárias: cada
país recipiente de capital parece estar tentando desviar
os ajustes indesejados para
algum outro lugar.
Para expressar a situação
de maneira crua, os Estados
Unidos desejam inflacionar o
restante do mundo, enquanto o restante do mundo quer
deflacionar os EUA.
Mas os EUA devem vencer
porque dispõem de munição
infinita: não há limite para o
volume de dólares que o Fed
pode criar. O que precisa ser
discutido são os termos de
rendição do restante do planeta: as mudanças necessárias nas taxas nominais de
câmbio e nas políticas internas em todo o mundo.
Em resumo, as autoridades econômicas americanas
farão o que tiver de ser feito
para evitar uma deflação. O
Fed continuará se movendo
até que os EUA estejam satisfatoriamente reflacionados.
As consequências que esse
esforço traria para o restante
do mundo não o preocupam.
Essas consequências são
evidentes: a mudança na política monetária norte-americana elevará o preço dos ativos de longo prazo e encorajará o capital a fluir para países com políticas monetárias
menos expansivas (como a
Suíça) ou retornos mais elevados (como as economias
emergentes). É isso que está
acontecendo.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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