São Paulo, domingo, 14 de novembro de 2010

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Trem-bala afeta reduto agrícola em SP

Última região de produção do Vale do Paraíba, área localizada na várzea poderá ser dividida pelo traçado do TAV

Grande produtora de arroz, várzea do Paraíba do Sul é considerada uma das áreas mais férteis do Brasil

Edson Silva/Folhapress
Trator faz adubação em arrozal em Quiririm, distrito de Taubaté, no interior de SP; área deve ser afetada pelo traçado do Trem de Alta Velocidade

AGNALDO BRITO
ENVIADO ESPECIAL A TREMEMBÉ

O projeto do TAV (Trem de Alta Velocidade), que ligará as cidades de Campinas, São Paulo e Rio de Janeiro, vai afetar o último reduto de produção agrícola da região do Vale do Paraíba (SP).
O leilão do empreendimento, cujo investimento é estimado em R$ 33 bilhões, está marcado para o dia 16 de dezembro.
A chamada "várzea do Vale do Paraíba" é considerada por agrônomos uma das mais férteis áreas agrícolas do país. Apesar dos graves problemas ambientais gerados pela pressão urbana, a área mantém-se produtiva com o plantio de milho (para silagem), soja, feijão, mandioca e, principalmente, arroz irrigado.
A fertilidade do solo, devido à umidade e ao acúmulo de material orgânico, permite a produção de 6.700 quilos de arroz por hectare, uma boa média.
Na soja, os produtores alcançam até 60 sacas por hectare; no feijão, entre 3.500 e 4.000 quilos por hectare. Uma boa produção de soja no Centro-Oeste rende 50 sacas por hectare. No caso da produção de feijão, a média é de 1.300 quilos por hectare.
A região do Vale do Paraíba é a maior produtora de arroz de São Paulo. São 11 mil hectares, 3.500 deles localizados nas regiões de Tremembé e de Quiririm, distrito de Taubaté.
A área ocupada pela rizicultura já foi maior. A poluição dos afluentes do Paraíba do Sul comprometeu a produção do arroz irrigado.
Já reduzida pela forte pressão da urbanização, a agricultura do Vale pode ficar sem espaço com o trem-bala.

TREM NA ROÇA
Pelo traçado do trem-bala sugerido pelo governo federal e que consta do edital de licitação, o trajeto escolhido utilizou a região central da várzea do rio Paraíba do Sul, eixo que fica entre a serra da Mantiqueira e o corredor da rodovia Presidente Dutra, onde está a mancha urbana.
Em vários trechos, o traçado do trem cruza o sinuoso rio Paraíba do Sul, que ruma para o Rio de Janeiro.
Se for confirmado o traçado sugerido no edital, o trem deverá cruzar uma das mais férteis áreas do Vale, uma faixa com pouco mais de dez quilômetros de terreno muito propício à agricultura.
"O impacto nessa área será imenso. O traçado passa no meio da área de produção, o que pode dividir o terreno e inviabilizar a produção agrícola", diz Ricardo Manfredini Hernandez Requejo, engenheiro-agrônomo da Casa da Agricultura de Tremembé.
Segundo Pedro Ramos da Silva, vice-presidente do Sindicato Rural de Taubaté, surpreende ao setor a ausência de informações por parte do poder público.
"Estamos a dias do leilão e ninguém sabe o real impacto desse projeto para o setor agrícola da região."
Silva será um dos agricultores atingidos pelo projeto, caso o traçado previsto no edital seja confirmado pelo consórcio vencedor. Ele produz mandioca, milho, cana e feno na área que será cortada ao meio com o traçado.
A grande dúvida é se o projeto de engenharia privilegiará uma via suspensa ou se vai ser viabilizado a partir de um talude (leito) sobre o terreno.
"Se for uma via suspensa, talvez possamos manter a produção sob a linha. Mas, se o trem for de superfície, o traçado divide a área e interrompe a passagem das máquinas", diz.
O governo federal tem dito que o traçado previsto no edital pode não ser o definitivo.
O empreendedor pode alterá-lo, mas, pelas regras do edital, a mudança do eixo terá de ser bancada pelo consórcio se o custo dessa alteração implicar aumento no valor das indenizações.

MOBILIZAÇÃO
O Sindicato Rural de Taubaté começou a mobilizar os produtores rurais da região.
O objetivo é conhecer os impactos do empreendimento na atividade agrícola. A Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo também foi chamada.


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