São Paulo, sábado, 15 de janeiro de 2011 |
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ANÁLISE Indexação no Brasil vem diminuindo, mas ainda é alta FÁBIO ROMÃO ESPECIAL PARA A FOLHA Para os economistas que se dedicam ao estudo da evolução dos preços, os últimos anos trouxeram uma boa-nova e um pesar. A notícia alvissareira é a constatação de que o IGP-M não tem mais a ascendência sobre os preços administrados que tinha no passado (hoje, a influência do IPCA é bastante superior). O principal responsável tem sido a substituição do IGP-M por índices de preços setoriais no cálculo do reajuste das tarifas -o que tem feito a variação do IGP-M no ano que se encerra deixar de ser bom sinalizador quanto à evolução dos preços monitorados no ano que se inicia. Grosso modo, esses índices setoriais consideram cesta de bens e serviços que refletem os custos específicos de cada setor ajustados por fatores de produtividade. Mas a indexação deixou de ser preocupação? Longe disso, pois, seja via tarifas públicas, seja pela "indexação informal", os preços no presente ainda carregam muito dos resultados do passado. Exemplo: dado que a inflação se acelerou de 2009 para 2010 -passando, no caso do IPCA, de 4,3% para 5,9%-, não por acaso projetamos que os preços administrados se acelerarão de 3,2% em 2010 para 4,1% em 2011. Quanto à indexação informal, os reajustes do aluguel são representativos dessa prática: é evidente que a variação dos gastos com aluguel é fortemente vinculada à variação do IGP-M nos 12 meses anteriores e a aceleração desse último em 2010 pressionará os reajustes de aluguel ao menos até março. O gasto com educação também incomodará, pois parte do custo da atividade vem dos salários (em alta). Mas os salários são indexados? Sim, mas há ressalvas: 1) a indexação hoje difere do antigo "gatilho salarial"; 2) o Dieese apurou que em várias ocasiões (sobretudo entre 1996 e 2003) parcela relevante dos trabalhadores obteve, nos seus dissídios salariais anuais, reajuste anual inferior à variação do INPC. 3) a LCA estimou que, no Brasil, perto de 30% dos trabalhadores têm rendimentos ao redor do salário mínimo e que, portanto, ele também é um importante indexador. Esse último ponto nos leva a concluir que a possível definição do mínimo entre R$ 540 e R$ 550 representaria importante freio sobre preços relacionados direta ou indiretamente aos serviços. É evidente que novos passos no sentido de amainar a memória inflacionária devem ser dados. Esse é um dos requisitos para que tenhamos juros compatíveis com os do resto do planeta. FÁBIO ROMÃO é economista da LCA. Texto Anterior: No Brasil, crise tem pouco efeito na inflação Próximo Texto: Cifras & letras - Entrevista/Elmar Altvater: Crise abre novas possibilidades ao capitalismo Índice | Comunicar Erros |
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