São Paulo, sábado, 15 de janeiro de 2011

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ENTREVISTA ELMAR ALTVATER

Crise abre novas possibilidades ao capitalismo


PESQUISADOR ENALTECE ORGANIZAÇÕES COLETIVAS E SUGERE A REGULAÇÃO DA ECONOMIA SOLIDÁRIA


ERNANE GUIMARÃES NETO
DE SÃO PAULO

Os altermundialistas, termo proposto pela organização francesa Attac (Associação pela Tributação das Transações Financeiras em Apoio aos Cidadãos), buscam uma oportunidade na crise com o livro "O Fim do Capitalismo como o Conhecemos", de Elmar Altvater.
O professor de ciência política na Universidade Livre de Berlim recorre à crise financeira de 2008 e à crescente preocupação com uma crise ambiental global para defender o fim da plutocracia.
Em entrevista por e-mail à Folha, o autor elogia a economia solidária como nova forma de organização e enaltece iniciativas brasileiras, como as cooperativas no Sul.

 


Folha - Por que o "O Fim do Capitalismo como o Conhecemos" e não apenas "O Fim do Capitalismo"?
Elmar Altvater -
Antes de tudo, eu quis enfatizar que o futuro está aberto. Sim, é difícil imaginar um mundo pós-capitalista, mesmo sabendo que "outro mundo é possível" [lema do grupo Attac, que ele apoia].
Só podemos ter certeza de que a "era fóssil" está acabando por conta da escassez do combustível fóssil e dos efeitos negativos de seu uso.
Aprendemos que a "democratização" do uso de automóveis leva ao colapso do transporte e das condições de vida em grandes aglomerações urbanas. No entanto, não estou certo de que não haja uma resposta capitalista a esses desafios.
Temos de levar em conta que, na Europa, durou séculos o capitalismo pré-industrial baseado não na energia fóssil, mas em biomassa, tração animal, vento e água. Em segundo lugar, quis sublinhar que o fim do capitalismo não é uma consequência das leis da natureza ou um evento inesperado; ele vem da ação humana.

O sr. argumenta que o petróleo é necessário para o funcionamento do capitalismo -dá como exemplo o caos na região dos EUA atingida pelo furacão Katrina, em 2005, quando acabou o combustível. Mas não basta encontrar substitutos para o petróleo?
A energia solar vive um novo boom, bem como as usinas fotovoltaicas e térmicas e a produção do etanol e do biodiesel; mas essas fontes alternativas de energia têm muitas desvantagens. O retorno do investimento é na maioria dos casos bem baixo e, frequentemente, elas têm efeitos negativos nas populações locais e na natureza.

A crise financeira fez bancos e governos repensarem a regulamentação. Isso não aprimora e fortalece o sistema?
Regulamentar foi uma necessidade absoluta para limitar os efeitos da crise. O governo teve de intervir para evitar a quebra de instituições sistemicamente relevantes. Mas o custo foi alto. Muitos Estados estão sobrecarregados por dívidas advindas da crise. Grécia, Irlanda, Portugal e outros estão no limite da insolvência. Portanto, a nova regulação não fortaleceu o sistema.

O sr. fala em solidariedade como base da mudança necessária. Mas a oposição entre solidariedade e individualismo é um problema antigo; que novidades há na valorização do coletivo?
O historiador britânico E.P. Thompson [1924-1993] mostrou que sempre houve uma via principal de acumulação de capital, com seus altos e baixos e a contradição de classes, e uma rua paralela, aquela da "economia moral", da solidariedade. Em alguns períodos, a economia solidária, a fundação de cooperativas, é filha da emergência, da pobreza e da miséria. Mas, às vezes, trata-se do anúncio orgulhoso de uma nova forma de organização. Sempre há, sim, a tensão entre coletividade e individualismo. Isso é normal e nos mostra a necessidade também de uma regulação da economia solidária.

No livro o sr. menciona as cooperativas brasileiras como bom exemplo. O que elas têm de especial?
Nada de especial além de terem uma longa história, particularmente nos Estados do Sul. Também é notável que o governo Lula tenha decidido integrar a economia solidária em programas sociais de combate à pobreza.

O FIM DO CAPITALISMO COMO O CONHECEMOS

AUTOR Elmar Altvater
TRADUÇÃO Peter Naumann
EDITORA Civilização Brasileira
QUANTO R$ 52,90 (364 págs.)


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