São Paulo, terça-feira, 15 de março de 2011

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ANÁLISE SAFRAS

Março e abril não são bons meses para os produtores venderem soja

FERNANDO MURARO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Os dados mundiais de área plantada, produção e exportação de soja tiveram significativa transformação na última década.
A principal delas foi o deslocamento, da América do Norte para a América do Sul, da maior parte da colheita mundial. Isso ocorreu devido ao avanço do grão no Brasil e na Argentina, segundo e terceiro maiores produtores do mundo, respectivamente.
Há nove anos, na safra 2002/3, os dois países sul-americanos plantaram, juntos, 31 milhões de hectares, ultrapassando, pela primeira vez, os EUA, que cultivaram 30 milhões de hectares.
Desde então, a área de soja em nosso continente não parou de crescer, chegando a 43 milhões de hectares em 2010/11, ante 31 milhões nos Estados Unidos.
Ou seja, enquanto os dois maiores produtores de soja da América do Sul avançaram 12 milhões de hectares, os norte-americanos ampliaram a área cultivada em apenas 1 milhão de hectares.
Assim, quando se fala da chegada da colheita na América do Sul, trata-se da maior safra do planeta entrando no mercado, e isso afeta negativamente -e de várias formas- os preços, especialmente neste mês e em abril.
Esses dois meses, aliás, nunca são a melhor alternativa de comercialização. Afinal, em 8 dos últimos 12 anos, os menores preços anuais foram registrados exatamente nesse período.
Em Cascavel (PR), por exemplo, houve, em 2010, queda vertiginosa de preço entre janeiro e março e em abril. No início do ano, a soja negociada para entrega em abril era vendida a R$ 40 por saca, caindo para menos de R$ 32 nos meses seguintes.
Em 2011 não está sendo muito diferente. Há um mês, a negociação entre empresas era cotada a R$ 48 por saca. Hoje, ronda os R$ 43.
A pressão da colheita também evidencia os dramáticos custos logísticos brasileiros em tempos de real valorizado. Nesta época do ano, os custos dos fretes explodem e derrubam os valores no final da cadeia.
Pela média deste mês apurada até agora, a diferença entre os preços da soja praticados no porto de Paranaguá (PR) e em Sorriso (MT) está em US$ 7,55 por saca, ante US$ 6,49 há um ano.
Embora não comercializar na boca da safra seja uma recomendação evidente, muitos produtores acabam vendendo neste período devido ao fato de muitos pagamentos de custeio terem como prazo final os dias 30 de março ou 30 de abril.
No ano passado, por exemplo, segundo dados da AgRural, mais de 35% da safra brasileira foi comercializada no pior período de preços. Uma boa estratégia, portanto, é sempre comercializar antecipadamente as dívidas de custeio, que vencem justamente quando os preços batem no chão.

FERNANDO MURARO JR. é engenheiro-agrônomo e analista de mercado da AgRural Commodities Agrícolas.
Internet: www.agrural.com.br



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