São Paulo, terça-feira, 15 de março de 2011

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BENJAMIN STEINBRUCH

Há muito por fazer


A expectativa de vida dos brasileiros ainda é menor do que a de países como Paraguai, Uruguai e Chile


ESTAMOS TODOS, naturalmente, muito felizes com os progressos recentes do Brasil. Conquistamos a estabilidade, reduzimos o desemprego e voltamos a ter um bom índice de crescimento econômico.
A taxa oficial de expansão do PIB no ano passado foi de 7,5%, um nível que não conseguíamos alcançar desde meados dos anos 1980. Além disso, acumulamos reservas em moeda forte de US$ 310 bilhões, que colocam o país em sexto lugar entre os que têm mais recursos guardados e dão segurança para as relações comerciais e financeiras externas.
Tudo isso é muito bom, mas sempre é preciso lembrar que o Brasil tem ainda muitas deficiências e problemas a enfrentar. É bastante elucidativo fazer um passeio pelo site do "The World Factbook", mantido pela CIA -ela mesmo, a Central Intelligence Agency, órgão do governo dos EUA-, que compila dados de diferentes fontes e apresenta uma série de comparações estatísticas entre os países.
Vê-se, desde logo, o enorme potencial brasileiro. Além das reservas bilionárias, o Brasil tem o sétimo maior PIB do mundo pelo critério PPP (paridade do poder de compra), uma força de trabalho de 103,6 milhões de pessoas, a sexta do mundo, e uma área geográfica de 8,5 milhões de km2, a quinta maior.
À medida que se avança nas tabelas comparativas, porém, vão aparecendo, infelizmente, grandes deficiências brasileiras. Na própria área da economia, ainda estamos longe de alguns dos melhores desempenhos. Temos um PIB considerável, de US$ 2 trilhões, mas existem 103 países com melhor renda per capita do que a brasileira. A distribuição da renda melhorou nos últimos anos, porém, ao olhar o índice Gini, que mede as desigualdades, nota-se que, numa lista de 134 países, só há 10 mais desiguais do que o Brasil.
Nosso deficit em conta-corrente, de US$ 52,7 bilhões no ano passado, coloca-nos numa assustadora posição: entre os 190 países mencionados, só 4 amargaram no ano passado deficit maiores do que o nosso -EUA, Espanha, Itália e França. O único consolo é que, nesse quesito, estamos na companhia de grandes potências econômicas.
Na área social, nossos indicadores também deixam muito a desejar. A expectativa de vida dos brasileiros, que subiu para 72,5 anos, ainda é menor até do que a de alguns países da América Latina, como Paraguai, Uruguai e Chile. Num ranking que inclui 223 nações, o Brasil está na posição 125. Os campeões da longevidade são os moradores do riquíssimo Principado de Mônaco. Lá, ao nascer, uma criança pode esperar viver, em média, 89,7 anos.
A taxa de mortalidade infantil, um dos principais indicadores da saúde da população, caiu muito no país nos últimos anos. Em 1990, de cada 1.000 crianças nascidas vivas, 38 morriam em um ano. Hoje, esse índice recuou para 21,1, mas está ainda longe dos níveis de países do Primeiro Mundo, onde morrem de 2 a 5 crianças no primeiro ano de vida.
Mesmo em alguns países tão ou mais pobres do que o Brasil, há índices bem melhores, como 4,9 em Cuba, 7,3 no Chile, 9,4 na Costa Rica, 9,6 no Uruguai e 10 na Rússia. Numa lista de 223 países, há 130 com taxas melhores do que a brasileira.
As comparações das tabelas da CIA também nos põem em posições pouco confortáveis em matéria de infraestrutura, como se poderia esperar, dadas as enormes deficiências brasileiras nesse setor.
O Brasil conta apenas com 28 mil quilômetros de ferrovias, enquanto outros países com extensão territorial semelhante têm muito mais: 226 mil quilômetros nos Estados Unidos, 87 mil na Rússia e 77 mil na China. A Argentina, com território que equivale a um terço do brasileiro, tem 31 mil quilômetros de vias férreas.
As tabelas também mostram um país deficiente em investimento público, em crédito interno e em outros indicadores importantes.
Faço essas reflexões não para espalhar pessimismo, mas para prevenir acomodações. No Brasil atual, que faz sucesso, duas posições deveriam ser evitadas: excessos conservadores, que estanquem avanços por medo, e ufanismos exagerados, que escondam tristes realidades ainda existentes no país.
Há muito por fazer.

BENJAMIN STEINBRUCH, 57, empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). Escreve às terças, a cada 15 dias, nesta coluna.

bvictoria@psi.com.br

AMANHÃ EM MERCADO:
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