São Paulo, domingo, 15 de maio de 2011

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Comperj deflagra "boom" imobiliário em Itaboraí, no Rio

Obra de complexo petroquímico de US$ 19 bilhões faz preço de aluguéis e de terrenos triplicar no município

Estudo aponta risco de avanço na violência gerado por crescimento desordenado e ausência do Estado na região

Fotos Rafael Andrade/Folhapress
Isaac dos Santos Teixeira (de azul), 41, com sua família, que foi afetada pela alta dos aluguéis em Itaboraí (RJ)

DO RIO

Numa área de 2.600 m2em Sambaetiba, bairro de Itaboraí (RJ), pedreiros erguem o primeiro bloco de alojamentos para receber cerca de 400 futuros trabalhadores do vizinho Comperj (Complexo Petroquímico do Rio). Restam ainda 18 mil m2 a serem ocupados no mesmo terreno.
A poucos quilômetros dali, a família de nove pessoas do biscateiro Isaac Teixeira, 41, se espreme num cômodo alugado de cerca de 12 m2. Ele busca outro imóvel com dois quartos, mas o preço triplicou em dois anos.
A especulação imobiliária e o crescimento do preço de aluguéis e terrenos é o primeiro indício do efeito da maior obra da Petrobras no Rio, estimada em US$ 19 bilhões e com previsão para iniciar operações em 2014.
O estudo do ISP (Instituto de Segurança Pública), órgão vinculado à Secretaria de Segurança do Rio de Janeiro, aponta o crescimento mal planejado como um dos possíveis estopins para o crescimento da violência.
"O abandono do poder público em certas regiões poderá criar um sentimento de insegurança pela precariedade de serviços básicos, gerando maior risco de morte e de fácil instalação de facções criminosas em locais onde o Estado não se faz presente", diz o estudo do instituto.
O ISP elaborou propostas para evitar o problema. Uma reunião com oito secretários deve ser marcada para definir os rumos para evitar novo colapso social, como ocorrido em Macaé.
O levantamento sugere aumento do efetivo da PM e criação de Divisão de Homicídios para a região. Parte das propostas já foi executada, como a modernização de delegacias da região.

ORDEM
Além das sugestões na área de segurança, o ISP pede o controle da expansão desordenada no entorno do Comperj e melhoria na infraestrutura da cidade.
A pesquisa revela, porém, que os gestores municipais por vezes se sentem impotentes frente ao forte investimento na cidade.
"A relação da empresa [Petrobras] com a prefeitura do município tem declinado. Nesse cenário, os poderes estadual e federal aparecem como impositores de um empreendimento de consequências nunca experimentadas pela máquina pública municipal, que alega não ter recursos para preparar a cidade", aponta o estudo.
Procurados, a Prefeitura de Itaboraí e a Petrobras não se pronunciaram.
"Os municípios devem ser capacitados para receber esses investimentos", diz o diretor-presidente do ISP, tenente-coronel Paulo Augusto Teixeira.
A especulação imobiliária já começou. Terrenos e aluguéis custam o triplo, segundo corretores. Sítios de veraneio vizinhos se transformam em alojamentos para receber os cerca de 15 mil futuros empregados.
Isaac sofre com a alta. Beneficiário do Bolsa Família, ele busca alugar por R$ 150 um imóvel com dois quartos. Enquanto tem dificuldades em achar, paga R$ 50 por mês para abrigar a mulher e os sete filhos numa sala com apenas um sofá. Outro cômodo da casa é alugado por uma mulher.
"Estou tentando encontrar algo melhor, mas está difícil", diz o biscateiro.
(ITALO NOGUEIRA)


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