São Paulo, domingo, 15 de maio de 2011

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O preço do silêncio

Mercado de espionagem movimentou R$ 1,1 bilhão em 2010 no país; uma sala antigrampo pode custar de US$ 75 mil a US$500 mil

CLAUDIA ROLLI
CAMILA FUSCO
DE SÃO PAULO

Dois empresários se encontram para uma importante reunião de negócios. Esvaziam todos os bolsos, deixam iPads e iPods em um armário e carregam a chave, um cartão com chip.
Em seguida, os dois passam por um minicorredor, onde são submetidos a uma espécie de raio-X.
Uma porta blindada se abre e eles finalmente entram em uma sala sem janelas e com paredes construídas com camadas de isolamento térmico, acústico e chapas de aço.
A história pode até parecer parte do roteiro de filme de ficção, mas não é.
Existem hoje no país 214 salas antigrampo -ou as chamadas salas-cofre- para permitir que empresários façam negócios sem correr risco de ser alvo de espionagem empresarial.
Os preços variam de US$ 75 mil a US$ 500 mil -caso da mais completa, como a descrita acima.
São nessas salas seguras que são definidos o lançamento de novos produtos ou a fusão de companhias ou ainda a criação de consórcios que disputarão as principais licitações do país.
O que pode parecer exagero passa a fazer sentido quando se considera que, no país, as empresas perdem, por ano, entre R$ 1 bilhão e R$ 1,5 bilhão com espionagem empresarial.
A estimativa é da RCI First Security and Intelligence Advising, especializada em análise e gestão de riscos e contraespionagem.
Com sede em Nova York, a empresa atua em 17 países, além do Brasil.
O mercado de espionagem e contraespionagem movimentou R$ 1,1 bilhão no ano passado, incluindo gastos com serviços e equipamentos usados para atacar e se proteger dos concorrentes.
"O Brasil demorou para entender o valor da informação. Nos Estados Unidos, o gasto com espionagem e contraespionagem é 15 vezes maior", explica Ricardo Chilelli, diretor-presidente da RCI, um dos maiores especialistas em segurança privada do país.
Enquanto 92% das empresas norte-americanas de médio e grande porte investem em proteção, no Brasil somente 17% delas têm essa preocupação. E somente 3% das brasileiras têm equipamentos próprios de proteção. Nos EUA, são 21%.

EMERGENTES
"Os mercados emergentes estão especialmente vulneráveis porque muitas empresas só agora estão se dando conta do valor de proteger suas informações", diz Larry Ponemon, presidente da consultoria americana Ponemon Institute.
A espionagem de segredos custa às empresas entre US$ 100 mil e US$ 50 milhões, dependendo do nível de informação furtada.
A proteção não existe apenas entre quatro paredes físicas, com as salas-cofre. Há seis meses a Positivo Informática, do Paraná, adotou uma espécie de sala virtual secreta, em que apenas poucos executivos têm acesso a projetos estratégicos.
A prática foi adotada após diversos projetos vazarem. O episódio mais recente ocorreu em 2010, quando imagens do leitor digital Alfa, concorrente brasileiro do Kindle, chegaram ao mercado em maio, três meses antes do lançamento.
Oito em cada dez empresas que contratam serviços de espionagem buscam informações sobre estratégias e planejamento de marketing dos concorrentes.
"A ideia é neutralizar ou amenizar o impacto do lançamento de um novo produto. Ou correr para lançar antes", diz Chilelli. "Ao contrário do que se pensa, somente 5% dos casos estão ligados ao furto de documentos e projetos."


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