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ANÁLISE
Só uma crise mais séria na UE poderia mudar rumo do PIB
SERGIO VALE
ESPECIAL PARA A FOLHA
Após crescer 9% no primeiro trimestre, o PIB deverá
se desacelerar ao longo dos
semestres seguintes. Mesmo
assim, ainda será forte suficiente para crescer os 7% que
o mercado passou a projetar
pelo Boletim Focus.
Criou-se um consenso, a
meu ver correto, de que a
economia mostra neste ano
sinais de aceleração muito
forte e mesmo os 7% previstos para 2010 se encontram
em patamar acima do que se
considera razoável, ou seja,
acima das estimativas gerais
de PIB potencial da economia, hoje em torno de 4,5%.
Quem mais se beneficiará
dessa recuperação nada modesta da economia será a indústria, cuja base de comparação muito baixa é um dos
fatores relevantes para sustentar taxas de crescimento
próximas a 20%.
Mas, mais do que isso, o
crescimento exagerado do
começo do ano se deveu a
um acúmulo de políticas expansionistas do governo.
Tanto a política monetária
como a fiscal ao longo de
2009 foram bastante fortes e
ainda são, na verdade.
A Selic ainda se encontra
2,25 pontos percentuais mais
baixa do que no último ciclo
de expansão, em 2008, e os
gastos reais do governo federal crescem ao ritmo de 10%
por ano, quando avançavam
entre 6% e 7% em 2008.
A turbulência na Europa e
o fim da redução do IPI, que
levou à desaceleração no
mercado automobilístico em
abril, devem ajudar a conter
a expansão da economia neste trimestre. A percepção natural disso é que o primeiro
trimestre foi pico do crescimento do governo Lula.
INFLAÇÃO
Isso ajuda a explicar dois
movimentos percebidos no
Boletim Focus. Primeiro, a
inflação pode não assustar
tanto quanto se imaginava.
Se não ocorrerem impactos inesperados em alimentos ou alguma "débâcle"
maior na zona do euro, há
grandes chances de o IPCA
ser menor do que 6% no acumulado de 2010.
Os dados de junho e julho
mais fracos serão essenciais
para isso, principalmente
por conta de alimentação e
energia elétrica em São Paulo, com prováveis quedas,
respectivamente.
Por outro lado, isso também alivia a Selic. De uma
possibilidade de alta sensível
da taxa básica neste ano, as
projeções começam a se acomodar e o Focus já sinaliza
uma taxa de final de ano um
pouco mais baixa. Isso quer
dizer que a Selic não deverá
passar dos 12,25% que esperamos para dezembro.
Quem pode estragar a festa? A esta altura, com o ano
na metade, só uma crise mais
séria na Europa poderia mudar o rumo do crescimento.
Esse é o tipo de evento
que, apesar de provável, é
imprevisível e, por isso, um
cenário de maior tranquilidade na conjuntura de curto
prazo tende a predominar.
SERGIO VALE é economista-chefe
da MB Associados
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