São Paulo, terça-feira, 15 de junho de 2010

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ANÁLISE

Só uma crise mais séria na UE poderia mudar rumo do PIB

SERGIO VALE
ESPECIAL PARA A FOLHA

Após crescer 9% no primeiro trimestre, o PIB deverá se desacelerar ao longo dos semestres seguintes. Mesmo assim, ainda será forte suficiente para crescer os 7% que o mercado passou a projetar pelo Boletim Focus.
Criou-se um consenso, a meu ver correto, de que a economia mostra neste ano sinais de aceleração muito forte e mesmo os 7% previstos para 2010 se encontram em patamar acima do que se considera razoável, ou seja, acima das estimativas gerais de PIB potencial da economia, hoje em torno de 4,5%.
Quem mais se beneficiará dessa recuperação nada modesta da economia será a indústria, cuja base de comparação muito baixa é um dos fatores relevantes para sustentar taxas de crescimento próximas a 20%. Mas, mais do que isso, o crescimento exagerado do começo do ano se deveu a um acúmulo de políticas expansionistas do governo.
Tanto a política monetária como a fiscal ao longo de 2009 foram bastante fortes e ainda são, na verdade. A Selic ainda se encontra 2,25 pontos percentuais mais baixa do que no último ciclo de expansão, em 2008, e os gastos reais do governo federal crescem ao ritmo de 10% por ano, quando avançavam entre 6% e 7% em 2008.
A turbulência na Europa e o fim da redução do IPI, que levou à desaceleração no mercado automobilístico em abril, devem ajudar a conter a expansão da economia neste trimestre. A percepção natural disso é que o primeiro trimestre foi pico do crescimento do governo Lula.

INFLAÇÃO
Isso ajuda a explicar dois movimentos percebidos no Boletim Focus. Primeiro, a inflação pode não assustar tanto quanto se imaginava. Se não ocorrerem impactos inesperados em alimentos ou alguma "débâcle" maior na zona do euro, há grandes chances de o IPCA ser menor do que 6% no acumulado de 2010.
Os dados de junho e julho mais fracos serão essenciais para isso, principalmente por conta de alimentação e energia elétrica em São Paulo, com prováveis quedas, respectivamente. Por outro lado, isso também alivia a Selic. De uma possibilidade de alta sensível da taxa básica neste ano, as projeções começam a se acomodar e o Focus já sinaliza uma taxa de final de ano um pouco mais baixa. Isso quer dizer que a Selic não deverá passar dos 12,25% que esperamos para dezembro.
Quem pode estragar a festa? A esta altura, com o ano na metade, só uma crise mais séria na Europa poderia mudar o rumo do crescimento. Esse é o tipo de evento que, apesar de provável, é imprevisível e, por isso, um cenário de maior tranquilidade na conjuntura de curto prazo tende a predominar.

SERGIO VALE é economista-chefe da MB Associados



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