São Paulo, sábado, 16 de abril de 2011 |
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CRÍTICA RELAÇÕES INTERNACIONAIS Livro denota falta de diálogo na produção acadêmica sobre ciências humanas do país JOÃO DANIEL LIMA DE ALMEIDA ESPECIAL PARA A FOLHA Ler "Estado e Desenvolvimento: Política e Relações Internacionais no Brasil Contemporâneo" ensina muito, sobre coisas muito distintas. Ao longo da leitura, somos transportados pelo Exército dos anos 1940, pela imprensa argentina dos anos 1960 e pelo sistema universitário gaúcho do regime militar. É leitura informativa, mas que sugere, pelo caráter recorrente desse tipo de publicação no país, que temos problemas de diálogo. Em um primeiro plano falta diálogo intraobra. Essa coleção enormemente heterogênea de artigos apresentados por pesquisadores da região Sul no 7º Congresso Internacional de Estudos Iberoamericanos foi compilada sob as etiquetas "autoritarismo", "nacionalismo" e "desenvolvimento" e englobam um período de mais de 60 anos de história republicana. Não é possível convencer o leitor de que os intelectuais periodistas gaúchos na Republica Velha, o efêmero interregno de controvérsias entre Vargas e nazistas em 1939 e os expurgos universitários do regime militar no Rio Grande do Sul façam parte de um mesmo todo coerente. São pesquisas condensadas mais por facilidade geográfica, administrativa ou institucional do que pela afinidade temática que o titulo e a introdução sugerem. Em um segundo plano, salta aos olhos a dificuldade do diálogo com a historiografia mais recente e com a pesquisa atual em relações internacionais feita no resto do pais ou fora dele. O último diálogo, ausente e urgentíssimo, é com o público. Historiadores, internacionalistas, sociólogos... não somos lidos. E não é por falta de interesse. Basta contar nas bancas de jornal o número de revistas de história. Qual é a tiragem dos livros "1808", de "1822" ou da "trilogia do descobrimento? Por que não recuperar o frescor da pesquisa de um Carlo Cipola ou de uma Barbara Tuchman, que tendo algo útil a dizer, fazem com graça? Nós, acadêmicos de ciências humanas, precisamos reaprender a dialogar. Ou então seremos a mais chata das fontes históricas em um futuro no qual o passado será compreendido por meio de um aplicativo do iPad, sob a grife de Laurentino Gomes ou Eduardo Bueno. JOÃO DANIEL LIMA DE ALMEIDA é historiador e mestre em Relações Internacionais pela PUC-RJ ESTADO E DESENVOLVIMENTO AUTORES H. G. da Silveira, L. A. de Abreu e T. Losso (org.) EDITORA Zouk QUANTO R$ 39 (296 págs.) Texto Anterior: Cifras & letras - Crítica/Indústria Têxtil: Livro discute por que moda do Brasil brilha, mas não vende Próximo Texto: Lançamentos Índice | Comunicar Erros |
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