São Paulo, quinta-feira, 16 de junho de 2011

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ALEXANDRE HOHAGEN

Cultura e a guerra por talentos


Para manter os talentos da geração dos anos 80, não basta elevar salários; eles querem mais do que isso


SE VOCÊ é executivo, chefe, empreendedor, profissional antenado, atenção para duas realidades: estamos vivendo uma escassez de profissionais qualificados; e a geração Y, que nasceu na década de 80 e foi criada no mundo digital, está dando uma banana para as empresas que pensam que, para atrair e reter talentos, basta aumentar salários.
Essa geração, na verdade, quer muito mais do que isso, como mostrou pesquisa recente da Cia. de Talentos. Nela, 35 mil jovens em todo o país contaram o que querem na hora de escolher as empresas para trabalhar. Cultura e ambiente de trabalho, oportunidade de desenvolvimento e qualidade de vida vêm acima da remuneração!
Uma das ações mais fascinantes e ao mesmo tempo desafiadoras no mundo corporativo é como construímos e mantemos uma cultura de trabalho saudável e inspiradora.
Muitos dizem que a cultura é o reflexo do estilo de seu líder. Tenho pensado bastante em qual papel exercemos nesse tema.
Minha vida profissional foi acompanhada de experiências com a construção e a manutenção de culturas corporativas. É incrível como o ambiente de trabalho, o espírito de empreendedorismo, a capacidade de colaboração, o respeito e o desapego ao poder têm relação direta com a performance das pessoas e das empresas.
No Google, comecei com menos de meia dúzia de pessoas e dedicação na construção de uma cultura que contribuiu para que a empresa tivesse o sucesso e o reconhecimento que tem hoje. Um trabalho que foi construído passo a passo -não só pelo líder, mas por centenas de mãos que se juntaram a uma filosofia simples, direta, com tremendo foco nas pessoas e suas motivações, num ambiente equilibrado entre performance e diversão... tudo isso ao longo de mais de cinco anos.
Há algumas semanas, fui convidado para um curso de empreendedorismo cujo tema era liderança e cultura. Dúvida mais comum dos participantes: como construir uma cultura vencedora e como mantê-la à medida que a empresa cresce.
A manutenção da cultura é fator essencial na retenção de talentos, principalmente à medida que as empresas crescem, se tornam mais burocráticas, deixam de lado o equilíbrio entre metas e ambiente de trabalho, entre outras mudanças.
Interessante é que, num mundo cada vez mais competitivo, a guerra por talentos leva grandes empresas a focar suas armas mais nas questões financeiras do que no esforço de construir uma cultura inspiradora, balanceada, colaborativa.
Quiseram também saber o significado de culturas vencedoras e qual será o foco agora que estou montando a operação do Facebook na América Latina. A construção de uma organização tem de estar, acima de tudo, alinhada a seus valores éticos e morais. É básico e assegura à empresa sua sobrevivência, sua reputação e excelentes resultados.
Outro foco fundamental é na formação da equipe inicial. Uma das coisas importantes que aprendi na carreira é a importância de contratar as pessoas corretas no início. Aqui os candidatos passam por ao menos cinco entrevistas, sempre com pessoas de diferentes times, para garantir a diversidade nas perguntas. Em alguns casos, fazem apresentações para um painel de executivos. Ao final, cada entrevistador sugere a contratação ou não.
As decisões são colegiadas. Mais importante do que o currículo ou as entrevistas é o alinhamento dos candidatos com a cultura que queremos construir. Muitas vezes, candidatos brilhantes academicamente não têm o perfil para trabalhar num ambiente informal e pouco hierarquizado, por exemplo.
No Brasil, vamos inovar trazendo uma equipe de jovens de diferentes locais, que já trabalham na empresa há alguns anos, para ajudar na integração e na cultura dos novos funcionários.
Como líderes num país tão dinâmico e promissor, entendo a responsabilidade que temos na formação de muitos profissionais. Trabalhar com respeito, desenvolver pessoas, construir culturas saudáveis está acima do nosso papel profissional. É uma obrigação ética com as novas gerações.

ALEXANDRE HOHAGEN, 43, jornalista e publicitário, é responsável pelas operações do Facebook na América Latina. Em 2005, fundou a operação do Google no Brasil e liderou a empresa por quase seis anos. Escreve às quintas-feiras, a cada quatro semanas, nesta coluna.

colunadohohagen@gmail.com.

AMANHÃ EM MERCADO:
Luiz Carlos Mendonça de Barros



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