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Brasil se espelha nos EUA contra China
Comitê americano analisa quais investimentos diretos podem ser feitos; Brasil já limitou venda de terra a estrangeiros
China é alvo pelo fato de os investimentos serem
feitos por estatais, o que
é considerado risco para
a soberania brasileira
DE BRASÍLIA
O Brasil já deu o primeiro
passo para restringir investimentos diretos da China,
com a limitação da compra
de terras por estrangeiros.
Para ampliar esse controle
para outros setores, o governo busca inspiração no sistema norte-americano.
Nos EUA, um comitê chamado CFIUS (sigla em inglês
para Comitê de Investimento
Externo nos Estados Unidos)
analisa e decide se os investimentos diretos poderão ser
feitos. Lá, um dos setores
protegidos é o marítimo.
Em agosto, parecer da
AGU (Advocacia-Geral da
União) definiu que a União
pode limitar a venda de terras para estrangeiros a no
máximo três módulos rurais
(medida que varia de 5 a 100
hectares, um minifúndio), o
que já está valendo.
Antes, a interpretação era
que não havia limite para nenhum tipo de investimento.
Até maio deste ano, o Incra
registrou que 213 propriedades rurais do país são propriedade de chineses. Mato
Grosso registra a maior área
rural de pessoas físicas ou
empresas da China, de mais
de 6.000 hectares.
No futuro, a restrição pode
ser contra diversos países,
mas hoje a China é o alvo
principal por dois motivos.
Primeiro, a maioria dos investimentos é feita por estatais, ou seja, pelo governo
chinês, um risco para a soberania brasileira.
Segundo, o país asiático
pode passar a produzir no
Brasil o que hoje importa de
empresas brasileiras, como o
minério e a soja.
Um dos alertas veio da
África, onde a China é agressiva na compra de terras.
CUIDADOS
O presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), José Augusto
de Castro, diz que o controle
será bem-vindo. Ele diz que
os setores prioritários para o
Brasil devem ser protegidos,
mas o governo tem que tomar
cuidado para não criar algum dano econômico.
Um assessor da equipe
econômica defende limites
para investimentos em telecomunicações. Ele argumenta que é um risco à soberania
nacional uma estatal de outro país controlar o fluxo de
informações no Brasil.
INFRAESTRUTURA
A restrição deveria chegar
também aos projetos de infraestrutura, mas ele admite
que o Brasil ainda precisa de
muitos investimentos nessa
área. A China já anunciou,
por exemplo, a participação
em projetos de energia.
Um diplomata brasileiro
que participa das negociações comerciais defende,
ainda, restrições no setor automobilístico, uma das mais
fortes indústrias no Brasil.
Em setembro, a montadora
chinesa Chery anunciou que
abrirá fábrica em São Paulo.
O controle de investimentos diretos é usado por países
desenvolvidos. Relatório da
OCDE (Organização para
Cooperação e Desenvolvimento Econômico) descreve
que são usados mecanismos
formais e informais na defesa
no fluxo de investimentos diretos por países do bloco.
São mecanismos que protegem a soberania e os interesses econômicos nacionais, principalmente nas
áreas de telecomunicações,
transporte e eletricidade.
(JULIANA ROCHA)
Colaborou FERNANDA ODILLA, de Brasília
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