São Paulo, sábado, 16 de outubro de 2010

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ANÁLISE

Austrália limita os chineses, que têm passe livre apenas na África

RAUL JUSTE LORES
EDITOR DE MERCADO

A Austrália criou uma lei sob medida para limitar as ambições chinesas.
O Conselho de Supervisão de Investimentos Estrangeiros da Austrália estipulou, no ano passado, que empresas "estatais" estrangeiras só podem obter até 15% das ações de empresas que detenham recursos minerais.
À época, o país era governado pelo único primeiro-ministro fluente em mandarim fora da China, o trabalhista Kevin Rudd. Especialista em China e agora chanceler, ele achava que os recursos naturais australianos não poderiam ficar nas mãos de um governo estrangeiro, que é pautado por suas necessidades domésticas, muito além das regras de oferta e procura do mercado.
Os chineses chiaram muito -depois de tentar comprar o controle da mineradora Rio Tinto três vezes e ter suas pretensões barradas pelo governo, quatro executivos da empresa foram presos em Xangai, em uma mal contada história de propinas.
Como a Justiça chinesa é um braço do Partido Comunista, muitos acreditaram que foi retaliação.
Para garantir a segurança alimentar e as matérias-primas que ajudam a erguer sua infraestrutura, a China compra à vista e apressadamente recursos por todo o mundo. Só no ano passado, a China importou 600 milhões de toneladas de minério de ferro.
Na África, a China não tem enfrentado obstáculos. Ela compra jazidas inteiras e poços de petróleo, e leva milhares de operários chineses para fazer o serviço. Em troca, constrói obras de infraestrutura, oferece créditos a juros baixos e faz agrados a ditadores e governos amigos.
Na Namíbia, vários filhos de ministros ganharam bolsas para estudar nas melhores universidades chinesas depois que uma empresa de Pequim ganhou a concorrência para instalar scanners no aeroporto de Windhoek. O filho do líder Hu Jintao é diretor de tal empresa.
Nos EUA, tentativas de aquisições de empresas americanas por chineses foram barradas. Mas é difícil descobrir se foi interesse nacional ou por lembranças do "perigo amarelo" da Guerra Fria.
O novo destino das investidas chinesas é a América Latina. Há muito dólar sobrando em Pequim e planos de longuíssimo prazo. É normal que as discussões australianas se trasladem para cá.


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