São Paulo, sábado, 16 de outubro de 2010

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CRÍTICA ENERGIA

Especialista narra a história dos "bárbaros" do petróleo

Trabalho ganhador do prêmio Pulitzer ganha edição brasileira atualizada

AGNALDO BRITO
DE SÃO PAULO

"Um homem do petróleo é um bárbaro de terno." A natureza levou bilhões de anos para acumular petróleo sob nossos pés. Agora, 150 anos depois de iniciada a corrida pelo ouro negro, mesmo com avanços tecnológicos, há razoável consenso de que não temos mais 150 anos para explorá-lo.
O vício do petróleo, como chegou a dizer George W. Bush, para muitos um entre os bárbaros, não é modesto.
Queimamos todos os dias 90 milhões de barris. Essa é a fatura que pagamos em nome de nosso "modo de vida".
Pois foi esse "modo de vida" que ergueu o conceito mundial de "segurança energética", a partir do qual os bárbaros contribuíram para desenhar a ordem geopolítica mundial. São mergulhos como esse que fascinam no livro de Daniel Yergin, um dos maiores especialistas em petróleo no mundo.
A obra, lançada em 1990 nos Estados Unidos, acaba de ser republicada no Brasil, numa edição ilustrada e já com um capítulo adicional em que o autor analisa a "crise no Golfo", além de já mencionar o Brasil como um novo protagonista nesse jogo. Yergin desfia num texto preciso e elegante histórias de uma indústria com 150 anos, da busca das primeiras gotas -recolhidas por meio de trapos encharcados em pequenas poças- aos projetos de exploração de óleo em águas ultraprofundas.
A história começa com Benjamin Silliman Jr., pesquisador da Universidade Yale, que por US$ 526,08 descobriu que daquele "óleo de pedra", viscoso e malcheiroso, poderia se tirar a chamada "nova luz". Uma luz que não só reduziu a demanda do óleo de baleia, então a melhor iluminação do século 19, mas permitiu que, mais barata, a "nova luz" de querosene estendesse o dia de trabalho para além da luz do sol.
Isso não foi nada diante do que estava por vir. A indústria do petróleo foi a primeira a se beneficiar da química. Um novo processo de refino deu ao mundo gasolina em abundância, suficiente para sedimentar outra invenção que mudaria a história: o motor a combustão interna.
Surgiu a indústria automobilística, uma nova indústria naval, a guerra com aviões. Surgiu a possibilidade de vencer grandes distâncias. Surgiram novas estradas e os postos de gasolina.

TRUSTE DOS BÁRBAROS
Os bárbaros de terno e gravata construíram um mercado de consumo que tomou o mundo. A Standard Oil (depois conhecida como Exxon, Mobil, Texaco, entre outras) tornou-se então o templo dos bárbaros. À frente, John D. Rockefeller, um dos empresários mais controversos da história do capitalismo. Mas não foi o único.
Ganhador do prêmio Pulitzer, o livro de Yergin explica o papel da energia nas sociedades contemporâneas e revela a relação da indústria com o poder do Estado, seja liberal, comunista ou nacionalista raivoso.
De Winston Churchill a Saddam Hussein, do xá Reza Pahlevi a Vladimir Putin ou Hugo Chávez, todos transformaram petróleo em assunto de Estado, quando não o converteram em arma.
Como escreve Yergin: "[O petróleo] tem sido o palco para o nobre e o desprezível do caráter humano. Criatividade, dedicação, espírito empresarial, empenho e inovação tecnológica vêm coexistindo com a avareza, a corrupção, a ambição política cega e a força bruta".
É importante saber disso, sobretudo agora, quando o Brasil também se prepara para criar alguns bárbaros.

O PETRÓLEO

AUTOR Daniel Yergin
TRADUÇÃO Leila Marina Di Natale, Maria Cristina Guimarães e Maria Christina de Góes
EDITORA Paz e Terra
QUANTO R$ 89 (1.080 págs.)


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