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CRÍTICA ENERGIA
Especialista narra a história dos "bárbaros" do petróleo
Trabalho ganhador do prêmio Pulitzer ganha edição brasileira atualizada
AGNALDO BRITO
DE SÃO PAULO
"Um homem do petróleo é
um bárbaro de terno."
A natureza levou bilhões
de anos para acumular petróleo sob nossos pés. Agora,
150 anos depois de iniciada a
corrida pelo ouro negro, mesmo com avanços tecnológicos, há razoável consenso de
que não temos mais 150 anos
para explorá-lo.
O vício do petróleo, como
chegou a dizer George W.
Bush, para muitos um entre
os bárbaros, não é modesto.
Queimamos todos os dias 90
milhões de barris. Essa é a fatura que pagamos em nome
de nosso "modo de vida".
Pois foi esse "modo de vida" que ergueu o conceito
mundial de "segurança energética", a partir do qual os
bárbaros contribuíram para
desenhar a ordem geopolítica mundial. São mergulhos
como esse que fascinam no
livro de Daniel Yergin, um
dos maiores especialistas em
petróleo no mundo.
A obra, lançada em 1990
nos Estados Unidos, acaba
de ser republicada no Brasil,
numa edição ilustrada e já
com um capítulo adicional
em que o autor analisa a "crise no Golfo", além de já mencionar o Brasil como um novo protagonista nesse jogo.
Yergin desfia num texto
preciso e elegante histórias
de uma indústria com 150
anos, da busca das primeiras
gotas -recolhidas por meio
de trapos encharcados em
pequenas poças- aos projetos de exploração de óleo em
águas ultraprofundas.
A história começa com
Benjamin Silliman Jr., pesquisador da Universidade
Yale, que por US$ 526,08 descobriu que daquele "óleo de
pedra", viscoso e malcheiroso, poderia se tirar a chamada "nova luz".
Uma luz que não só reduziu a demanda do óleo de baleia, então a melhor iluminação do século 19, mas permitiu que, mais barata, a "nova
luz" de querosene estendesse o dia de trabalho para
além da luz do sol.
Isso não foi nada diante do
que estava por vir. A indústria do petróleo foi a primeira
a se beneficiar da química.
Um novo processo de refino
deu ao mundo gasolina em
abundância, suficiente para
sedimentar outra invenção
que mudaria a história: o motor a combustão interna.
Surgiu a indústria automobilística, uma nova indústria naval, a guerra com
aviões. Surgiu a possibilidade de vencer grandes distâncias. Surgiram novas estradas e os postos de gasolina.
TRUSTE DOS BÁRBAROS
Os bárbaros de terno e gravata construíram um mercado de consumo que tomou o
mundo. A Standard Oil (depois conhecida como Exxon,
Mobil, Texaco, entre outras)
tornou-se então o templo dos
bárbaros. À frente, John D.
Rockefeller, um dos empresários mais controversos da
história do capitalismo. Mas
não foi o único.
Ganhador do prêmio Pulitzer, o livro de Yergin explica
o papel da energia nas sociedades contemporâneas e revela a relação da indústria
com o poder do Estado, seja
liberal, comunista ou nacionalista raivoso.
De Winston Churchill a
Saddam Hussein, do xá Reza
Pahlevi a Vladimir Putin ou
Hugo Chávez, todos transformaram petróleo em assunto
de Estado, quando não o converteram em arma.
Como escreve Yergin: "[O
petróleo] tem sido o palco para o nobre e o desprezível do
caráter humano. Criatividade, dedicação, espírito empresarial, empenho e inovação tecnológica vêm coexistindo com a avareza, a corrupção, a ambição política
cega e a força bruta".
É importante saber disso,
sobretudo agora, quando o
Brasil também se prepara para criar alguns bárbaros.
O PETRÓLEO
AUTOR Daniel Yergin
TRADUÇÃO Leila Marina Di Natale,
Maria Cristina Guimarães e Maria
Christina de Góes
EDITORA Paz e Terra
QUANTO R$ 89 (1.080 págs.)
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