São Paulo, sábado, 16 de outubro de 2010

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ANÁLISE CITRICULTURA

Cadeia da laranja já trouxe mais de R$ 110 bilhões ao país

MARCOS FAVA NEVES
ESPECIAL PARA A FOLHA

Em outubro de 2009, começamos a discutir com a CitrusBR, uma nova organização setorial da indústria citrícola, que até então se mostrava fortemente desarticulada, pois tinha uma associação de indústria com um só associado e uma associação de citricultores com pouca representação em volume de frutas.
Indiferença geral e uma agenda pautada por aspectos negativos e desconfiança.
O objetivo da conversa era atualizar o estudo de 2003 de quantificação da cadeia produtiva dos citros, naquela visão científica de pesquisar, reunir dados, fazer analises e trazer propostas, publicando artigos, livros e outras formas de divulgação, formando talentos e cumprindo com o papel básico da universidade.
Após 12 meses e dez pessoas trabalhando, o resultado saiu e será divulgado no próximo dia 20 em evento em São Paulo.
Paralelamente, estimulados pelo secretário de Agricultura e pelas organizações setoriais, e com novas lideranças participando, o setor vem discutindo fortemente a formação do Consecitrus, que seria um mecanismo de pagamento da fruta semelhante ao da cana, permitindo maior compartilhamento de riscos e transparência.
O consenso já está ao alcance da visão e é uma solução ao setor. Seguem apenas alguns dos números levantados. Desde 1962, a citricultura trouxe US$ 60 bilhões ao Brasil em exportações. Em 2010, esperam-se US$ 2 bilhões (quase 3% do agronegócio).
O Brasil detém 50% da produção mundial de suco, e, exportando 98% do que produz, consegue incríveis 85% de participação no mercado mundial.
O PIB do setor citrícola é de US$ 6,5 bilhões, e o faturamento total de seus elos foi de mais de US$ 14 bilhões em 2009.
O setor gera 230 mil postos de trabalho e uma massa salarial anual de R$ 676 milhões. Essa cadeia não tem só o suco de laranja -em 2009, foram exportados US$ 241 milhões em subprodutos.
Dois problemas: em 2009, foram pagos R$ 518 milhões em tarifas, o que equivale a R$ 1,90 por caixa processada e, considerando-se as exportações de 2006 a 2009, se a taxa de câmbio fosse de US$ 1 para R$ 2,32, o setor teria R$ 760 milhões a mais por ano. O câmbio e os custos sufocam o setor.
O estudo acabou sendo o catalisador para que a indústria citrícola passasse a ganhar confiança quanto à necessidade de divulgar suas informações, de forma agregada.
A citricultura, antes tão criticada por nós pela sua falta de coordenação e de articulação, está dando a volta por cima e coloca as discussões em novo patamar.
Que seja um passo para uma construção conjunta de uma nova fase, caracterizada por relações mais harmônicas, transparência, trabalhos integrados, compartilhamento de ativos, combate a custos de produção e outras ameaças, para que seus profissionais possam focar a atenção nos seus problemas mais sérios: o desenvolvimento de mercados e as doenças e pragas (custos).
Aí sim a citricultura pode trazer a São Paulo e ao Brasil outros US$ 60 bilhões a US$ 100 bilhões nos próximos 50 anos, movimentando a economia do interior.


MARCOS FAVA NEVES é professor titular de planejamento na FEA/USP (Campus de Ribeirão Preto) e coordenador científico do Markestrat.
Internet: www.favaneves.org


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