São Paulo, terça-feira, 16 de novembro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

NIZAN GUANAES

Nordeste is beautiful


As palavras do embaixador Andrew Young sobre o preconceito me ajudam a pensar sobre o Brasil


ANDREW YOUNG foi duas vezes prefeito de Atlanta, para onde ajudou a levar a Olimpíada, e embaixador dos Estados Unidos perante a ONU durante o governo Jimmy Carter. Mas, acima de tudo, o embaixador Andrew Young já tinha entrado na história como um dos principais parceiros do doutor Martin Luther King na luta pelos direitos civis nos Estados Unidos.
Sua conversa brilhante me anima e me aquece numa noite muito fria da Geórgia. Existem conversas que -assim como grandes ondas- não temos estatura para enfrentar. É melhor ouvir. E seria uma burrice falar. Porque, a cada momento em que Andrew Young se cala, perdemos um pouco de história.
Os filhos de Martin Luther King estão sentados à minha frente na mesa de jantar e ouvem o embaixador Young com respeito e reverência: Young foi um dos principais ativistas da luta contra o racismo no sul dos EUA.
Inspirado por Gandhi, ele ajudou a conceber uma resistência pacífica contra leis racistas que ainda vigoravam em alguns Estados da Federação americana.
Andrew Young esteve sempre ao lado de Martin Luther King, inclusive num dos momentos mais icônicos daquela dura luta: o assassinato do próprio King no motel Lorraine, em Memphis, em 4 de abril de 1968.
Jamais vou me esquecer das palavras de Young. Ele me disse: "Meus netos não vão sofrer mais racismo organizado. A luta pelos direitos civis na América acabou com isso. O que eles poderão sofrer é o racismo desorganizado, eventual, espasmódico".

ATLANTAS BRASILEIRAS
Ao voltar ao Brasil e encontrar tolices escritas aqui e ali contra os nordestinos, as palavras do embaixador Andrew Young me alentam e me ajudam a organizar o pensamento. Não vou levar essa burrice a sério. Porque burrice acontece em qualquer lugar.
Uma das portas do crescimento deste país hoje é o Nordeste: é a nossa China estatística, a base da pirâmide, a nova fronteira. Não há grande empresa que não esteja preocupada em levar os seus produtos para onde o país se desenvolve.
Os nordestinos ajudaram a construir São Paulo e agora estão desenvolvendo o Nordeste. O IBGE já detecta mudança nos fluxos migratórios. A mobilidade da força de trabalho é mãe da competitividade.
É um dos segredos da riqueza dos EUA, foi assim que a Atlanta de Andrew Young tornou-se um dos motores econômicos do sul, sede da Coca-Cola, da CNN e de tantas outras corporações globais. Quantas Atlantas brotarão do Nordeste neste Renascimento econômico da região e do país?
São Paulo também é uma cidade que abraça a todos. Plural. Não fosse isso, sua principal rede de varejo não se chamaria Casas Bahia. Eu amo São Paulo, cidade que me acolheu e me deu tudo.
Quem derrotou primeiro o preconceito no Brasil foi o sexo. Os portugueses não trouxeram portuguesas. O Brasil sempre resolveu melhor suas misturas na prática do que no discurso.
Não conseguimos sequer responder com clareza à mais básica das perguntas nesse debate: há racismo no Brasil hoje? Como Andrew Young, acredito que não de forma organizada.
Mas o racismo institucionalizado de séculos passados ainda aparece na desigualdade entre, por exemplo, a renda de brancos e a de pretos, na denominação utilizada pelo IBGE.
É uma herança que confunde o pensamento e o comportamento, um racismo herdado, não mais cultivado.
A solução para essa dívida secular finalmente chegou. E da maneira mais óbvia. O desenvolvimento econômico é a única cicatriz para essa ferida. Estamos em plena cura. Tardia, mas eficiente.


NIZAN GUANAES, publicitário e presidente do Grupo ABC, escreve às terças, a cada 15 dias, nesta coluna.

AMANHÃ EM MERCADO:
Mario Mesquita



Texto Anterior: Análise/Commodities: Regras do mercado futuro preocupam produtor de café
Próximo Texto: L'Occitane abre loja on-line no Brasil
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.