São Paulo, domingo, 17 de julho de 2011

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FÁBIO COLLETTI BARBOSA

A importância de participar


Precisamos de ações práticas e precisamos também trazer a sociedade para mais perto do Estado


Recentemente, em conversa com um amigo, discutíamos qual seria o segundo tema mais importante para a sociedade, já que havíamos concordado que educação é, de longe, o mais importante.
De pronto, minha resposta foi que cidadania é um tema que ainda precisa ser muito trabalhado.
O argumento mais comum é o de que, se investirmos em educação, melhoraremos nossa atitude cidadã. Porém, não é o que se observa no comportamento de grupos que podemos considerar bem-educados, sob qualquer critério técnico.
São notórios os muitos casos de tolerância ou mesmo prática dos ditos pequenos delitos, que impactam negativamente a comunidade, como, por exemplo, desrespeito a leis de trânsito, compra de produtos piratas etc.
Precisamos de ações práticas, coerentes no dia a dia, e precisamos também trazer a sociedade para mais perto do Estado.
Por isso o ponto que quero explorar é como as pessoas se fazem (ou não se fazem?) representar no Estado. Muitos, mesmo entre aqueles de bom nível educacional, parecem considerar que o Estado é outra instituição, independente, e que não nos diz respeito.
Podemos ir mais longe e dizer que, seja por alienação, seja por desgaste, parecem resignadas e que nada há a fazer. Esse não é o caminho! Não podemos perder a capacidade de nos indignar, jamais!
Interessante notar que ao longo dos últimos anos tivemos crescente mobilização dos consumidores de produtos e serviços para fazer prevalecer seus direitos, seja por meio do Procon, dos meios de comunicação ou das redes sociais.
Não se vê, porém, movimentação dos consumidores de cidadania (pagamos por serviços com impostos e com os nossos votos) em igual intensidade na busca pelo cumprimento das promessas feitas pelos candidatos.
Muitas podem ser as explicações para essa dissociação. Por um lado, falta conscientização do papel que nos cabe como cidadãos, não apenas por meio de atitudes, mas também via articulação de grupos e reivindicação de determinados rumos e visões.
Nesse caso, um caminho poderia ser um trabalho de base mais forte por parte das escolas, das famílias e da imprensa para reforçar a ideia de que sociedade e Estado são interdependentes, e que precisamos de maior influência da sociedade no Estado.
Outra possível explicação para essa dissociação é a questão de o sistema de representação eleitoral existente ser falho.
De fato, é difícil acompanhar a atividade parlamentar daqueles que nos representam, seja por falta de cultura (como comentado acima), seja porque o sistema parece distanciar e descaracterizar a relação entre o eleito e o eleitor, que deveria ser mais próxima.
Ademais, a maioria dos partidos não tem uma bandeira ou uma causa clara que inspire mobilizações.
Por conta disso tudo, tenho me interessado cada vez mais pela questão do voto distrital.
Claro que é preciso um aprofundamento quanto aos mecanismos, mas acredito fortemente que um sistema que aproxime o eleitor do seu candidato criaria um vínculo maior e estimularia os eleitores a balizar e a fiscalizar os seus representantes, já que finalmente seriam considerados genuinamente como "seus representantes".
Por fim, vale notar que novas tecnologias estão abrindo canais, novas maneiras de transformar a sociedade. Os jovens começam a pensar por uma lógica diferente, cada vez mais conectados em redes, com capacidade de transformar a sociedade de baixo para cima.
Não importa o canal, mas sim que tenhamos a sociedade mais perto do Estado, sugerindo, cobrando, enfim, participando.
A construção de uma sociedade se faz através dos seus cidadãos, no dia a dia. Precisamos desenvolver a consciência de todos e azeitar os canais, mas, sobretudo, precisamos que cada um chame para si um papel no compromisso ""indelegável"" de construir a sociedade na qual queremos viver e que queremos deixar para os nossos filhos.
O importante é participar. Afinal, o que você faz afeta a sociedade. O que você não faz, também.

FÁBIO COLLETTI BARBOSA, 56, administrador de empresas, é presidente do conselho de administração do Banco Santander e presidente do conselho da Febraban. Escreve a cada quatro semanas, aos domingos, neste espaço.

colletti.barbosa@gmail.com

AMANHÃ EM MERCADO:
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