São Paulo, sexta-feira, 17 de setembro de 2010

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Mercado discute alta de juros em 2011

Divergências entre economistas sobre inflação levam a apostas que vão de alta dos juros de 13% a queda de 10%

Importados baratos em alta demanda, menor preço de alimentos e desaceleração recente controlaram inflação


ÉRICA FRAGA
DE SÃO PAULO

Embora a média do mercado financeiro tenha ignorado a mensagem do Banco Central de que o atual nível de juros é suficiente para manter a inflação no centro da meta de 4,5%, há divergência grande entre economistas para o cenário no ano que vem.
Os juros dos contratos futuros para janeiro de 2012 ficaram estáveis em 11,3% desde a divulgação da ata da mais recente reunião do BC, no dia 9. Já as expectativas capturadas pelo relatório Focus subiram de 11,5% para 11,75%. A Selic (taxa básica de juros) está em 10,75%.
Mas essas projeções médias escondem uma dispersão grande. Entre economistas-chefes respeitados de grandes bancos, há quem vislumbre aperto monetário bem mais forte pela frente e quem espere corte da Selic já no ano que vem.
Alexandre Schwartsman, ex-diretor do BC e economista-chefe do Santander, projeta, por exemplo, uma Selic de 13% no fim de 2011.
Já Nilson Teixeira, economista-chefe do Credit Suisse, antes mesmo da divulgação da última ata do BC trabalhava com cenário de queda da Selic, no segundo semestre de 2011, para 10%. E diz haver probabilidade não desprezível de que o afrouxamento da política monetária comece até antes, no primeiro semestre do próximo ano.
Outros economistas seguem o BC e apostam em estabilidade da Selic em 2011.
Com mais de um ano pela frente, impossível saber quem acertará. Fazer projeção econômica já é exercício árduo. No caso da inflação, fatores imprevisíveis, como mudanças meteorológicas bruscas, podem ter forte impacto nos preços.
Ainda assim o debate sobre os possíveis rumos da inflação no Brasil tem ganhado força entre economistas e autoridades porque envolve questões relevantes. Entre elas, a possível existência de um descompasso entre oferta e demanda na economia, alimentada por uma política fiscal expansionista, e a credibilidade do BC.

INFLAÇÃO
O rumo indefinido da inflação neste ano contribuiu ainda mais para esquentar a discussão. A variação do IPCA (principal índice de inflação ao consumidor) em três meses saiu de 2,06% em março deste ano -percentual mais alto desde julho de 2008- para 0,05% em agosto passado (número mais baixo desde agosto de 2006).
Fatores como menores preços dos alimentos, produtos importados mais baratos (em um momento em que a demanda brasileira por bens de fora é enorme e a desaceleração da economia) no segundo trimestre parecem ter contribuído para esse forte recuo da inflação.
Mas falta consenso entre economistas em relação à contribuição de cada um desses fatores para a trajetória recente da inflação. O BC afirmou em sua última ata que a taxa de juros necessária para manter a inflação próxima ao centro da meta é menor hoje do que no passado.
Isso aumentou a complexidade do debate porque esse suposto ganho de eficiência da política monetária é difícil de medir.
Divergências entre economistas à parte, a veemência do BC ao passar essa mensagem provocou uma leitura unânime de que, para a autoridade monetária, os juros devem permanecer estáveis por um bom tempo.
"Por ter sido muito assertivo, se o Banco Central estiver errado, vai custar um pouco mais caro e a sua credibilidade poderá sair arranhada. Se ele estiver certo, terá ensinado uma lição para o mercado", diz Schwartsman.


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