São Paulo, sábado, 17 de setembro de 2011

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Empresa de general angolano para de voar e deixa dívidas

Higino Carneiro montou a Puma Air em sociedade com brasileiro com o objetivo de realizar voos para Angola

Sócio brasileiro sumiu, dizem executivos ouvidos pela Folha, deixando mais de R$ 22 milhões em dívidas

MARIANA BARBOSA

DE SÃO PAULO

Pouco mais de um ano depois de iniciar operações, a Puma Air, com sede no Pará, parou de voar deixando mais de R$ 22 milhões em dívidas.
A empresa não voa desde maio. Até meados de agosto, cerca de 20 mil passageiros foram reacomodados em voos de outras companhias, como manda a lei. Mas a verba de reacomodação acabou.
A Folha apurou que o presidente da Puma, Gleison Gambogi, não aparece na empresa há mais de um mês. Ele não atende telefone nem responde emails de diretores, ex-diretores ou funcionários.
Empresa do general angolano Higino Carneiro, ex-ministro de obras públicas e um dos homens mais ricos do país, a Puma nasceu para fazer voos regulares para Angola.
Atendendo às exigências da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), precisou antes montar uma operação doméstica para se habilitar a voar para o exterior.
A empresa operava com um Boeing 737, com voos de São Paulo para Macapá e Belém. A segunda aeronave está parada no Peru desde maio por falta de manutenção.
Segundo relato de dois executivos da empresa, em uma troca de emails Carneiro teria demonstrado ter sido traído por Gambogi. Disse que já tinha feito três pagamentos para o aluguel inicial do segundo avião e que não entendia a demora na liberação.
Apesar de ser o homem por trás do negócio, Carneiro detém só 20% da Puma - limite máximo para capital estrangeiro no setor.
Gambogi, ex-dono de uma franquia de livros infantis, detém o restante. A estrutura societária foi aprovada em janeiro de 2010 pela Anac.
Na sede da Puma, um funcionário chamado Cláudio disse que Gambogi está viajando "há uns 15 dias" e voltaria semana que vem. Disse ainda que não havia previsão para a retomada dos voos. "Aguardamos um posicionamento da presidência."
Quando a Folha fez mais perguntas sobre o paradeiro de Gambogi, a ligação foi interrompida subitamente. Depois, só deu sinal de ocupado. A Folha deixou recado no celular do empresário, mas ele não retornou.
Muitos funcionários, que não recebem há mais de dois meses, ainda têm esperança que Gambogi apareça com dinheiro para retomar os voos.
Além de salários atrasados, a empresa deve para Petrobras, INSS, agências de viagem e outros.
A empresa parou de voar por decisão da área de operações. Duas semanas depois, após inspeção da Anac, teve o certificado de aeronavegabilidade (espécie de atestado de segurança do avião) suspenso por 60 dias.
Depois do prazo, segundo a Anac, o certificado foi liberado. "A situação da empresa hoje é regular", informa a Anac. Para operar novamente, é preciso "solicitar horário de voo e passar por avaliação técnica."
Carneiro esteve na sede da Puma apenas uma vez. Mas vem ao Brasil regularmente, para fazer check-ups. Apelidado de bulldozer (escavadeira), foi citado na CPI dos Bingos, em 2005. Seu nome aparece nos grampos, com ex-assessores próximos ao ex-ministro Antonio Palocci negociando a venda de um banco do Rio de Janeiro a Carneiro.


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