São Paulo, sábado, 17 de setembro de 2011

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Alta do dólar faz reserva no exterior despencar

Empresas aproveitam para trazer ao país dinheiro que estava depositado fora

Movimento indica que exportador não espera que moeda continue a subir; aposta é de que volte a valer R$ 1,60

EDUARDO CUCOLO

DE BRASÍLIA

O volume de dólares de exportações que ficam fora do país despencou no início de setembro.
Com a valorização da moeda, empresas aproveitam para trazer recursos e tomar empréstimos externos que são, neste momento, trocados por mais reais.
Em 2010, US$ 25 bilhões em exportações, 12,5% do total, não entraram no país, valor recorde, segundo dados do Banco Central.
Nos oito primeiros meses deste ano, apenas US$ 4 bilhões ficaram no exterior, 2,5% do valor exportado.
Esse valor caiu pela metade entre os dias 1º e 9 de setembro, período em que exportadores trouxeram ao país volume de dólares 30% superior ao das suas vendas.
No mês em que a cotação do dólar trocou o patamar de R$ 1,55 pelo de R$ 1,70, algumas empresas aproveitaram para trazer ao país dinheiro que estava depositado no exterior. Outras tomaram novos empréstimos em dólar para financiar vendas futuras.
Desde 2008, para reduzir a entrada de dólares e a pressão sobre o câmbio, o BC liberou o exportador da obrigação de trazer o recurso de suas vendas para o país.
Dessa forma, as empresas podem usar o dinheiro para fazer pagamentos, de importações ou dívidas, investimentos ou até aplicações.
Segundo analistas do mercado de câmbio, o movimento dos exportadores mostra que muitas empresas não esperam que a moeda continue a subir. As apostas ainda são de que as cotações voltem a R$ 1,60 até o fim do ano.
"Exportadores estão ingressando com dólares que estavam represando no exterior, pois entendem que a alta é pontual e não vai muito além do que já foi", diz o economista Sidnei Nehme, da corretora de câmbio NGO.
"Os importadores têm a mesma percepção e assim retardam os pagamentos de suas importações, convictos de que o preço retrocederá."
O economista João Medeiros, da corretora de câmbio Pioneer, diz que muitos exportadores aproveitaram este momento para antecipar o ingresso de receitas.
Algumas empresas ainda estão cautelosas e evitam fechar todas as operações agora, diante da incerteza em relação ao rumo das cotações.
"Nós e as grandes empresas operamos com ideia de que é melhor vender a R$ 1,54 quando há uma tendência do que a R$ 1,80, mas sem expectativa", disse.
A entrada de dólares neste momento deveria ajudar a conter a alta de moeda. Esse aumento de oferta, no entanto, foi neutralizado pelos bancos, que usaram os recursos para liquidar suas apostas na queda da moeda americana.
Sidnei Nehme diz que a entrada desse dinheiro no país coincide com a mudança nas apostas dos bancos brasileiros, que estão lucrando hoje com a alta e não com a queda nas cotações.
Avalia que o dinheiro estava sendo usado para financiar a especulação contra o dólar. Agora, está aplicado pelos bancos para lucrar com o movimento contrário.
Segundo o economista, a especulação era a explicação para uma valorização tão grande do real em relação ao dólar.
"Neste momento, o real perdeu o encanto e passou a ser uma moeda comum."


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