São Paulo, domingo, 18 de julho de 2010

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"Não subestimem a Europa", diz presidente da Comissão Europeia

Durão Barroso diz que crise é chance para aprofundar integração

CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA

José Manuel Durão Barroso, o presidente da Comissão Europeia, usa o exemplo da Copa do Mundo recém-encerrada, para gritar: "Não subestimem a Europa". Logo que duas das grandes seleções europeias (França e Itália) foram eliminadas, houve um punhado de análises dando o futebol europeu como fracassado. No entanto, os três primeiros classificados foram europeus. Antes, durante e depois da Copa, uma catarata de análises ensaia o atestado de óbito da economia europeia, o maior mercado do mundo. Durão Barroso rebate todas as críticas e diz que sua defesa "baseia-se nos fatos, e não em qualquer idealismo europeu, embora eu fale com paixão da Europa". Leia trechos da entrevista.

 

Folha - Queria ao menos duas razões que me convençam de que são precipitadas as notícias de que a Europa está à beira da morte, como se lê todos os dias na mídia global. José Manuel Durão Barroso - Podemos começar talvez com uma analogia. Há algumas semanas, o mais importante jornal global de língua inglesa [o "International Herald Tribune", edição internacional do "New York Times"] publicava na primeira página que o futebol europeu já não é o que era. A verdade é que as três primeiras seleções na Copa foram europeias. Isto é, obviamente, uma "boutade". Mas serve para transmitir a minha mensagem: não subestimem a Europa. A Europa tem grandes recursos, econômicos, culturais, políticos, institucionais, e a história da integração europeia mostra que, sempre que há uma crise, é uma ocasião para se renovar ou aprofundar o seu processo de integração.

Mas não houve uma demora excessiva, tanto no primeiro como no segundo pacote?
Eu mesmo já vinha reclamando essa intervenção mais cedo. Gostaria que os países-membros tivessem chegado a um acordo mais depressa. Mas há uma coisa que as pessoas precisam compreender: nós, na UE, diferentemente de Brasil ou China, não somos um país. Comparar a Europa com um Estado que é uma entidade política absolutamente integrada causará sempre uma desilusão. A Europa é uma união de Estados. Não estávamos institucionalmente preparados para esse problema, que é sem precedentes.

Há um país europeu que o sr. evidentemente não pode nomear, mas que causa no bloco desequilíbrios como a China provoca nos EUA...
Você está se referindo à Alemanha. É óbvio que a Alemanha é o principal motor econômico da Europa. Mas não critico a Alemanha por ser o motor europeu. Não queremos reduzir a competitividade da Alemanha. Queremos aumentar a competitividade dos outros. Temos que dizer aos outros que têm que fazer as reformas estruturais necessárias para estarem mais perto da Alemanha.

Não há ainda o risco, com a adoção de medidas de austeridade, embora necessárias, de que haja um novo mergulho na recessão porque o governo reduz seus gastos e ainda toma dinheiro do setor privado via alta de impostos?
Esse risco há, mas estamos a evitá-lo. Muita coisa que tem sido escrita não corresponde à verdade. Tem-se dito que a Europa está em uma política contracionista. Falso. Nos Orçamentos europeus deste ano, a média ainda é expansionista. Claro que não se pode pedir à Grécia, por exemplo, que siga expansionista em 2010. Seria completamente irracional sugerir a países que têm problemas graves de sustentabilidade das finanças que estimulem a demanda através de investimentos públicos. Seria suicida.

FOLHA.com
Leia a íntegra da entrevista
folha.com.br/me768274


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