São Paulo, sábado, 18 de setembro de 2010

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Matéria-prima deve liderar exportações

Será a primeira vez desde 1978 que os produtos básicos vão superar os manufaturados na balança comercial

Aumento de preço das commodities alavancou a mudança, aliado às dificuldades do setor industrial brasileiro


MÁRIO SÉRGIO LIMA
DE BRASÍLIA

O aumento dos preços das matérias-primas no mercado global, somado às dificuldades encontradas pelo setor industrial brasileiro, deve fazer com que a fatia dos produtos básicos nas exportações totais brasileiras supere, ao final do ano, a parcela dos manufaturados pela primeira vez desde 1978.
Essa "reprimarização" da balança comercial -conceito adotado pela Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe) para explicar o peso cada vez maior das commodities nas exportações, em detrimento de produtos com maior valor tecnológico agregado- reproduz um movimento observado também em outros países latino-americanos.
Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, os produtos básicos, até agosto, responderam por 44,27% das vendas externas brasileiras (US$ 55,822 bilhões), cante 39,74% de manufaturados (US$ 50,108 bilhões). Em 1978, os básicos representaram 47,2% de todas exportações do país, e os manufaturados, 40,2%.

MINÉRIO DE FERRO
Nos primeiros oito meses deste ano, o minério de ferro representou 12,63% das exportações brasileiras, impulsionado pela valorização nos mercados internacionais.
Em seguida, no ranking dos mais exportados, vieram petróleo (7,92%) e soja (7,54%). O principal item manufaturado da lista, automóveis (2,22% do total), ocupava a nona posição na lista de exportações brasileiras.
Se considerado o total dos produtos industrializados (manufaturados e semimanufaturados), ainda há vantagem sobre os básicos.
"É uma situação que preocupa. O governo já mapeou o problema, mas não há medidas de curto prazo", afirma o secretário de Comércio Exterior, Welber Barral.
"É preciso pensar em uma reforma tributária, em maneiras de ampliar a competitividade da nossa indústria, na resolução de gargalos de logística. O fator da moeda forte também atrapalha."
Para a secretária-executiva da Cepal, Alícia Bárcena, um fator que ajuda a explicar essa "reprimarização" é a atuação mais forte da China no comércio mundial. "Os chineses são grandes compradores de matérias-primas, além de exportadores de manufaturas baratas."
"A competição com os produtos chineses prejudicou muitos países que exportavam manufaturas de menor valor tecnológico agregado, como o México, e favoreceu grandes exportadores de matérias-primas, como os brasileiros", completa Bárcena.
Segundo o vice-presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), José Augusto de Castro, as exportações de manufaturados acabam sendo muito caras.
"Além do câmbio, há a forte carga tributária, que faz com que exportemos tributos indiretamente, além de taxa básica de juros alta e infraestrutura deficiente."
"Não é um problema aproveitar os recursos naturais nas exportações, mas não em detrimento dos manufaturados", afirma Bárcena. "É preciso adotar uma política de busca por inovação e avanços tecnológicos, além do fortalecimento das pequenas e médias empresas", receita.
E a dependência muito grande das commodities também cria instabilidade, já que a alta no preço dessas matérias-primas pode decorrer de especulação no mercado financeiro.
"O Brasil acaba dependente do bom humor do exterior", afirma Castro.


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