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Matéria-prima deve liderar exportações
Será a primeira vez desde 1978 que os produtos básicos vão superar os manufaturados na balança comercial
Aumento de preço das commodities alavancou a mudança, aliado às dificuldades do setor industrial brasileiro
MÁRIO SÉRGIO LIMA
DE BRASÍLIA
O aumento dos preços das
matérias-primas no mercado
global, somado às dificuldades encontradas pelo setor
industrial brasileiro, deve fazer com que a fatia dos produtos básicos nas exportações totais brasileiras supere, ao final do ano, a parcela
dos manufaturados pela primeira vez desde 1978.
Essa "reprimarização" da
balança comercial -conceito adotado pela Cepal (Comissão Econômica para a
América Latina e o Caribe)
para explicar o peso cada vez
maior das commodities nas
exportações, em detrimento
de produtos com maior valor
tecnológico agregado- reproduz um movimento observado também em outros
países latino-americanos.
Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, os
produtos básicos, até agosto,
responderam por 44,27% das
vendas externas brasileiras
(US$ 55,822 bilhões), cante
39,74% de manufaturados
(US$ 50,108 bilhões). Em
1978, os básicos representaram 47,2% de todas exportações do país, e os manufaturados, 40,2%.
MINÉRIO DE FERRO
Nos primeiros oito meses
deste ano, o minério de ferro
representou 12,63% das exportações brasileiras, impulsionado pela valorização nos
mercados internacionais.
Em seguida, no ranking
dos mais exportados, vieram
petróleo (7,92%) e soja
(7,54%). O principal item manufaturado da lista, automóveis (2,22% do total), ocupava a nona posição na lista de
exportações brasileiras.
Se considerado o total dos
produtos industrializados
(manufaturados e semimanufaturados), ainda há vantagem sobre os básicos.
"É uma situação que preocupa. O governo já mapeou o
problema, mas não há medidas de curto prazo", afirma o
secretário de Comércio Exterior, Welber Barral.
"É preciso pensar em uma
reforma tributária, em maneiras de ampliar a competitividade da nossa indústria,
na resolução de gargalos de
logística. O fator da moeda
forte também atrapalha."
Para a secretária-executiva da Cepal, Alícia Bárcena,
um fator que ajuda a explicar
essa "reprimarização" é a
atuação mais forte da China
no comércio mundial. "Os
chineses são grandes compradores de matérias-primas, além de exportadores
de manufaturas baratas."
"A competição com os produtos chineses prejudicou
muitos países que exportavam manufaturas de menor
valor tecnológico agregado,
como o México, e favoreceu
grandes exportadores de matérias-primas, como os brasileiros", completa Bárcena.
Segundo o vice-presidente
da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), José Augusto de Castro, as exportações de manufaturados
acabam sendo muito caras.
"Além do câmbio, há a forte carga tributária, que faz
com que exportemos tributos
indiretamente, além de taxa
básica de juros alta e infraestrutura deficiente."
"Não é um problema aproveitar os recursos naturais
nas exportações, mas não em
detrimento dos manufaturados", afirma Bárcena. "É preciso adotar uma política de
busca por inovação e avanços tecnológicos, além do
fortalecimento das pequenas
e médias empresas", receita.
E a dependência muito
grande das commodities
também cria instabilidade, já
que a alta no preço dessas
matérias-primas pode decorrer de especulação no mercado financeiro.
"O Brasil acaba dependente do bom humor do exterior", afirma Castro.
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