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ANÁLISE SAFRAS
Quem quiser saber a tendência da soja deve olhar para o milho
OS ESTOQUES DOS EUA, PAÍS QUE MAIS PLANTA, COLHE E EXPORTA MILHO NO MUNDO, ESTÃO EM NÍVEIS DE RISCO DE DESABASTECIMENTO
FERNANDO MURARO JR.
ESPECIAL PARA FOLHA
Em seu relatório de oferta e
demanda deste mês, o Departamento de Agricultura
dos Estados Unidos fez alterações importantes nos quadros de soja e de milho norte-americanos da safra 2010/11.
Motivo: a produção tanto
de uma como do outro são menores do que se previa.
Essas modificações, que já
fizeram as cotações atingir os
maiores valores desde 2008,
ainda devem gerar bons frutos, em forma de preço sem
caroço, em 2011.
Afinal, safras menores demoram a ser digeridas pelo mercado.
No caso da soja, o que reduziu a produção dos 94,8
milhões de toneladas previstos em setembro para os
atuais 92,8 milhões foi a queda de 500 mil hectares na área plantada.
A área cultivada caiu de
31,9 milhões de hectares estimados no mês passado para
31,4 milhões neste -curiosamente, a mesma superfície ocupada na safra anterior.
A questão agora é a produtividade. Embora tenha sofrido pequena redução na comparação com a previsão de
setembro (passou de 50,1 para 49,8 sacas por hectare),
ela ainda é a maior da história dos EUA. Será mesmo?
Essa é a pergunta que não quer calar neste momento
em que as colheitadeiras caminham para a parte final
dos trabalhos, gerando relatos de produtividade que
apontam para uma produção menor.
O maior problema, porém, está no milho. Embora esta coluna seja sobre soja, daqui
para a frente será inevitável traçar mais comentários sobre o cereal.
Afinal, os estoques dos
EUA, país que mais planta,
colhe e exporta milho no
mundo, estão em níveis de risco de desabastecimento.
De acordo com o Usda, embora a área cultivada tenha sido a segunda maior da
história, com 35,7 milhões de
hectares, a safra de milho
deste ano deve ser de 321,7
milhões de toneladas, contra 333 milhões do ano passado.
Isso porque a produtividade, de 163 sacas por hectare, é quase dez sacas menor que
a do ano passado.
Como esses números ainda não são definitivos, a relação estoque-consumo do cereal, calculada atualmente
em apenas 6,7%, pode ser ainda menor.
Se isso acontecer, os norte-americanos terão obrigatoriamente de fazer racionamento de consumo.
Com a situação de abastecimento tão dramática como
essa, no ano que vem os produtores dos Estados Unidos
terão de plantar muito mais
milho -algo entre 2 milhões
e 3 milhões de hectares- para deixar a situação mais tranquila.
Como o Meio-Oeste não
tem mais espaço para novas
áreas, aumento no plantio de
milho significa redução no de soja. O cobertor é curto.
Com área menor, o quadro
de suprimento de soja poderá ficar muito mais delicado
em 2011. Essa briga por área,
porém, ainda está longe de
uma definição, pois é o preço
dos dois produtos que resolverá quem terá mais espaço.
Sendo assim, quem quiser saber a tendência dos preços da soja em 2011 terá de olhar para o milho.
FERNANDO MURARO JR. é engenheiro
agrônomo e analista de mercado da
AgRural Commodities Agrícolas.
Internet: www.agrural.com.br
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