São Paulo, domingo, 20 de junho de 2010

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SP "sem legenda" atordoa estrangeiros

Executivos que se transferem para a cidade não encontram estrutura bilíngue e se perdem no excesso de burocracia

Maior queixa é a falta de pessoas que falem ao menos inglês, para alugar imóvel ou para abrir conta em banco

MARIANA SCHREIBER
DE SÃO PAULO

O forte crescimento da economia brasileira está provocando a vinda de milhares de estrangeiros de todos os cantos do mundo para o Brasil. No entanto, nem mesmo a capital econômica do país está preparada para recebê-los.
Os executivos reclamam: o que falta em atendimento qualificado sobra em excesso de burocracia.
Quando chegou a São Paulo transferido pela empresa de consultoria McKinsey, o indiano Chintan Dhebar, 25, não falava uma palavra em português. Sem encontrar um corretor fluente em inglês, precisou da ajuda de colegas de trabalho para alugar um apartamento.
No plantão médico de um grande hospital como o Albert Einstein, durante o fim de semana, ele também não encontrou um médico bilíngue. No Itaú, o gerente de relacionamento também não falava inglês. Uma conversa que poderia durar dez minutos levou quase uma hora.
"Foi um pesadelo no início. Era um sufoco conseguir táxi ou fazer compras."
Procurado, o Itaú não comentou a queixa. O Albert Einstein informou que possui um departamento exclusivo para o atendimento a estrangeiros, com equipe fluente em inglês e espanhol, disponível de segunda a sexta-feira. Nos fins de semana, há um plantão à distância.

BUROCRACIA
Com a parte burocrática, Dhebar teve mais facilidade. A McKinsey providenciou documentos como o RNE (Registro Nacional de Estrangeiro, equivalente ao RG dos brasileiros) e o CPF.
A alemã Gardaia Von Bothmer, tradutora da Câmara de Comércio Brasil-Argentina, não teve a mesma sorte. Em abril, ela passou sete horas na sede da Polícia Federal para dar entrada no RNE.
Sem local suficiente para todos se sentarem, depois de horas em pé ela acabou se acomodando no chão.
Traumatizada, preferiu pagar R$ 250 para um despachante ajudá-la a fazer o CPF.
"Sem RNE não podia tirar CPF; sem CPF não podia comprar celular nem abrir conta em banco", observa.
A maior dificuldade que enfrentou, porém, foi alugar um apartamento. Após escolher um, levou seis semanas para fechar o contrato. O problema foi falta de fiador.
"Recusaram o seguro-fiança duas vezes, pois não consideravam na análise o rendimento que tenho alugando um imóvel na Alemanha. Se você não conhece alguém que tenha apartamento em São Paulo, dificulta muito."
Depois de muita negociação, o proprietário aceitou um depósito bancário como garantia. Ela ficou impressionada com o grande volume de páginas do contrato e pediu a ajuda de advogados.
"Na Alemanha, as coisas são bem menos regulamentadas. Lá, nunca precisei abrir firma. E, se você trabalha, não é preciso ter fiador. Só se for estudante e, mesmo assim, basta uma carta bem informal dos pais."
A francesa Aurélie Naville, que chegou há seis meses a São Paulo acompanhando o marido, doutorando na USP, diz que, sem saber falar português, teve dificuldades para levantar a papelada necessária para retirar o RNE. Abrir conta em banco e pagar contas foram outros desafios.
"Eram muitos documentos para entregar, e na PF só falavam português."

FLUXO
Apesar das dificuldades, o fluxo de migração para o Brasil voltou a crescer neste ano.
No primeiro trimestre foram concedidos 11,53 mil vistos de trabalho, número recorde e 16% superior ao do mesmo período de 2009.


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