São Paulo, domingo, 20 de junho de 2010

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MOHAMED EL-ERIAN e MICHAEL SPENCE

Os emergentes são a salvação?


Os países industrializados precisam estar dispostos a acomodar a importância das economias emergentes

AO LONGO dos dois últimos anos, os países industrializados passaram por severos surtos de instabilidade financeira. No momento, enfrentam problemas cada vez mais graves de dívida soberana e alto desemprego.
Mas as economias emergentes, no passado consideradas como mais vulneráveis, provaram-se notavelmente resistentes.
Com crescimento que está retornando ao nível enérgico anterior a 2008, o desempenho de China, Índia e Brasil é um importante propulsor de expansão para a economia mundial moderna.
Mas esse crescimento tem implicações significativas em prazo mais longo. Caso o padrão atual se sustente, a economia mundial será permanentemente transformada.
Não muito mais de uma década será necessário para que a proporção do PIB (Produto Interno Bruto) mundial gerada pelas economias em desenvolvimento supere os 50%, se o indicador for medido em termos de preços de mercado.
Assim, é importante determinar se essa fase de crescimento acelerado será sustentável.
A resposta vem em duas partes. Uma depende da capacidade das economias emergentes de gerir seu sucesso, e a segunda, da capacidade da economia mundial de acomodar esse sucesso. A resposta à primeira questão é reconfortante; já no caso da segunda, nem tanto.
Embora ainda tenham a possibilidade de explorar o diferencial que as separa das economias industrializadas para promover crescimento mais rápido, as economias emergentes precisam conduzir reformas estruturais contínuas, rápidas e ocasionalmente difíceis, bem como um processo paralelo de reforma e construção de instituições.
Distribuição importa tanto quanto o crescimento. As economias emergentes precisarão administrar melhor as suas tensões internas, que refletem a elevação na disparidade de renda e o acesso desigual a serviços básicos.
Um fracasso quanto a isso pode tirar dos trilhos a dinâmica de avanços internos e crescimento regional.
Em termos gerais, as economias emergentes estão bem posicionadas para navegar com sucesso por um mundo tornado instável pelas crises nos países industrializados.
No entanto, uma vez mais o descolamento não é completo.
Um desfecho favorável requer que os países industrializados tenham a capacidade de e a disposição para acomodar a importância crescente das economias emergentes. Os riscos são significativos, nesse aspecto, e diversos problemas potenciais são visíveis.
A localização do crescimento na economia mundial passa a ser considerada como um jogo no qual, para que alguém ganhe, alguém mais precisa perder, e isso resulta em reações menos que ideais.
Como resultado, a abertura continuada dos mercados de países industrializados não pode ser considerada como irreversível.
Um mundo como esse requer melhor governança mundial, bem como reformas estruturais que vêm sendo postergadas há muito e dariam às economias emergentes voz e representação adequadas nas instituições internacionais.
Na ausência de mudanças nesse sentido, a economia mundial poderá saltitar de crise a crise sem uma mão firme ao leme que estabeleça um rumo comum.
O resultado é aquilo que os economistas designam "equilíbrios de Nash", ou uma série de desfechos inferiores aos ideais e no máximo semicooperativos.
E onde ficamos com isso?
As economias emergentes serão convocadas a desempenhar papel cada vez mais importante em uma economia mundial de múltiplas velocidades caracterizada pela reabilitação demorada dos balanços distendidos nos industrializados.
A capacidade das economias emergentes para lubrificar o crescimento que facilita os ajustes dos países industrializados também depende da disposição desses últimos para acomodar flutuações tectônicas na operação e na governança da economia mundial. A esperança é que essas questões recebam a atenção requerida.


MOHAMED A. EL-ERIAN é presidente-executivo da Pimco. MICHAEL SPENCE ganhou o Nobel de Economia em 2001 e é pesquisador sênior na Hoover Institution (EUA). Este artigo foi distribuído pelo Project Syndicate.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

AMANHÃ EM MERCADO:
Gustavo Cerbasi



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