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ANÁLISE
Políticas monetárias frouxas e os descompassos cambiais
MONICA BAUMGARTEN DE BOLLE
ESPECIAL PARA A FOLHA
A forte valorização das
moedas emergentes, resultante do agravamento do
quadro global, tem sido o
principal assunto nas últimas semanas.
Que o enfraquecimento das principais moedas globais é desejável é algo difícil de contrapor.
As economias avançadas,
sobretudo os EUA e a Europa,
entalados com suas dívidas
excessivas, não conseguem
catalisar o crescimento de
curto prazo de que tanto necessitam a partir apenas de
políticas internas, precisando urgentemente de fluxos
externos oriundos de um aumento da capacidade exportadora.
A China, com sua política
de administração cambial, limita a extensão desses ajustes, gerando um enorme descontentamento.
No meio do fogo cruzado
cambial entre o Oriente e o
Ocidente estão países emergentes como o Brasil, tentando administrar a enxurrada
de recursos externos derivada do descompasso cambial
e das políticas monetárias
excessivamente frouxas das economias maduras.
Há saída fácil para esse dilema? Infelizmente não, fato
reconhecido pelas autoridades brasileiras e uma das razões para que tenham preferido se abster de um embate mais fervoroso com a China.
Claro que ajudaria se a
China permitisse que o yuan
se fortalecesse mais rapidamente, limitando o aumento
das reservas do país. No entanto, as autoridades chinesas têm um plano de abertura gradual para o balanço de
pagamentos que dificilmente
será alterado por meio das pressões de outros países.
O estado precário da economia mundial resulta do sobre-endividamento das economias maduras, e a resolução das crises de excesso de dívida são complexas.
O processo de limpeza dos
balanços tende a ser demorado e, frequentemente, doloroso no curto prazo.
Além do mais, com o emissor da moeda internacional
-os EUA- plenamente engajado em enfraquecer o dólar por intermédio de uma intensificação do afrouxamento monetário, não há como
evitar as políticas de intervenção cambial das economias emergentes.
O intervencionismo cambial gera ineficiências. O Brasil, com reservas em US$ 280
bilhões, paga caro por esse
estoque, fato ilustrado pelo
vultoso "spread" entre a taxa
de juros brasileira e a americana, de mais de dez pontos percentuais.
Entretanto, no momento
atual certas escolhas de política econômica estão restritas à subotimalidade. O que
se pode fazer é evitar que as
distorções e as ineficiências
cresçam em outras áreas da
política econômica interna
brasileira, controlando os
gastos do governo e freando
a expansão excessiva do crédito público, por exemplo, e
abrindo um maior espaço para a redução dos juros.
MONICA BAUMGARTEN DE BOLLE, economista, é professora da PUC-RJ e
diretora do Iepe/Casa das Garças.
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