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commodities
Café volta a ser controlado pelo governo, e setor fica apreensivo
Bebida deverá ter menos de 1% de impurezas, até 5% de umidade e análise de aroma e sabor
Instrução normativa
vigora a partir de
fevereiro e visa retirar
do mercado produto
de baixa qualidade
MAURO ZAFALON
ENVIADO ESPECIAL A NATAL
Após 20 anos de autorregulação, a indústria de café
volta a ficar sob o controle do
governo. A partir de meados
de fevereiro, o Ministério da
Agricultura passa a fiscalizar
a qualidade do café colocado
à disposição do consumidor.
Quem for pego na contramão das novas regras poderá
receber pesadas multas, que
vão até R$ 5.000, mais 400%
do valor do lote produzido,
dependendo da infração.
O que era para ser uma
transição tranquila, já que
essa proposta vinha sendo
endossada pela própria indústria, tomou o rumo de calorosas discussões no final
da semana passada, em Natal (RN), onde a indústria esteve reunida no 18º Encafé
-encontro anual do setor.
O acerto corria bem porque somava interesses tanto
do ministério como da indústria. Ao ministério interessa
esse acerto com a indústria
porque, por lei, o órgão tem
de classificar todos os produtos destinados à alimentação, o que não vinha ocorrendo com o café.
Já a indústria desenvolve
um programa de pureza no
setor, mas esbarra em dificuldades para punir infratores.
O ministério, agora, poderá
assumir esse controle.
A proposta do governo deverá retirar do mercado cafés
que são de baixíssima qualidade, mas que ainda vão para o consumidor. Dos 19,3 milhões de sacas que o país
consome anualmente, 400
mil vêm de palhas, paus, sementes de açaí e milheto.
Mas, a dois meses de entrar em vigor, a instrução
normativa nº 16, que vai regular o setor, é vista com
apreensão pela indústria,
produtores e importadores
de café processado.
A Abic (Associação Brasileira da Indústria de Café) pediu o adiamento da vigência
da instrução, mas o ministério promete mantê-lo.
REGRAS
A apreensão das indústrias ocorre porque a instrução entrará em vigor sem a
montagem de uma estrutura
adequada no ministério. Para se enquadrar às novas regras, as indústrias deverão
produzir café com menos de
1% de impurezas e com 5%
de umidade, no máximo.
Além disso, o café terá de
obter pelo menos quatro
pontos em uma avaliação
sensorial. A escala varia de
zero a dez e essa avaliação é
feita por meio de degustação,
em que se apuram o aroma e
o sabor da bebida.
O setor aceita os controles
de impureza e de umidade,
mas quer o adiamento da
avaliação sensorial. Essa será feita por um "classificador
de produtos vegetais habilitado para degustação de café
torrado e moído" -profissão
ainda não regulamentada.
Na lista dos que se enquadram na nova regulamentação estão engenheiros-agrônomos, químicos, técnicos
agrícolas etc., sem uma definição clara do aproveitamento dos técnicos que já atuam
no mercado há muitos anos.
A indústria vê problemas,
já que a degustação sensorial
exige muito treino e é um sistema subjetivo para determinar a qualidade do produto.
Para agilizar a formação
dos profissionais, o ministério fará dois cursos, mas,
quando o segundo acabar, a
instrução já estará em vigor.
O ministério não vê problemas nessa análise sensorial porque poderão ser usados profissionais e estrutura
que já servem as próprias indústrias. Motivo: a Abic já
tem um programa de qualidade com grau de exigência
ainda maior do que o que será implantado pelo governo.
O jornalista MAURO ZAFALON
viajou a convite da Abic
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