São Paulo, quinta-feira, 21 de abril de 2011

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Trem-bala custa R$ 55 bi, dizem empresas

Estimativa é muito superior à do governo, que calculou que a obra sairia por R$ 38,6 bi, em valor atualizado

Construtoras chegaram a cogitar a formação de um único consórcio, mas a ideia não foi bem recebida pelo governo

DIMMI AMORA
DE BRASÍLIA

O trem-bala entre Campinas-SP-RJ custará R$ 55 bilhões. É o valor a que chegaram as quatro maiores empreiteiras do país após realizar estudos em conjunto neste ano sobre o sistema.
O estudo do qual participaram Andrade Gutierrez, Odebrecht, Camargo Corrêa e Queiroz Galvão ficou pronto antes do adiamento pela segunda vez do leilão do trem-bala, deste mês para julho. Os dados foram verificados por uma consultoria internacional, que validou as informações das empresas.
O trabalho diz que, com alguns ganhos de produtividade, o valor pode cair a, no mínimo, R$ 50 bilhões -mesma previsão feita num estudo preliminar do ano passado. O custo total é aproximado ao que chegou o estudo de outro grupo de empreiteiras de médio porte de São Paulo (R$ 53 bilhões).
Estas grandes empreiteiras são consideradas vitais para o trem-bala -mais de 80% do projeto são obras civis. O primeiro adiamento aconteceu porque elas não tinham feito estudos.
Em 2008, o governo estimou o custo do projeto em R$ 33,1 bilhões, que, atualizados pela inflação, chegam hoje aos R$ 38,6 bilhões. O presidente da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres), Bernardo Figueiredo, diz que não vai aumentar o valor do financiamento e do investimento público do trem-bala, que totalizaria R$ 26,5 bilhões (atualizados).
Ainda segundo Bernardo, o valor maior de investimento só vai reduzir a taxa de retorno para quem investir (estimada em 10,5% e menor que a atual taxa básica de juros) e não compromete a viabilidade do projeto. Segundo ele, isso foi feito para que as empresas sejam agressivas nas propostas.
Mas o alto valor de recursos que as empresas terão que conseguir para fazer a obra e comprar os equipamentos é o nó do projeto.
Com o custo em R$ 50 bilhões, o consórcio que vencer o leilão teria que aportar R$ 23,5 bilhões. Desse valor, apenas 30% (R$ 7 bilhões) poderão ser em empréstimos bancários, que o governo imaginava virem de bancos de fomento do país dono da tecnologia vencedora.
Os 70% restantes terão que vir de recursos próprios dos investidores, algo em torno de R$ 16,5 bilhões. Para ajudar nisso, o governo sinaliza que o vencedor terá como sócios fundos de pensão de estatais (em torno dos R$ 2 bilhões) e os Correios (valor não avaliado). Houve ainda discussão com a Eletrobras.
Para conseguir os recursos próprios, o grupo investidor terá que apelar a outros tipos de financiamento. E os bancos não querem emprestar sem garantias reais (bens patrimoniais das empresas), ao contrário do BNDES.
Além disso, pesa para as empresas o fato de, ao pegar o empréstimo, ficarem com restrição de créditos para outros investimentos com rentabilidade mais segura (como PAC, Copa e Olimpíada). Ter grande volume de recursos num único projeto é considerado muito arriscado.
As grandes empreiteiras decidiram, após o primeiro adiamento do leilão, em novembro, fazer o estudo em conjunto para otimizar custos e porque queriam formar um único consórcio. A ideia não foi bem-vista pelo governo, e agora cada empresa tenta se associar a um fornecedor de tecnologia.


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