São Paulo, quarta-feira, 21 de julho de 2010

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ANÁLISE

Empréstimo a longo prazo depende de reformas no país

LUIS MIGUEL SANTACREU
ESPECIAL PARA A FOLHA

A evolução das operações de crédito para pessoas físicas ainda reflete o conjunto de medidas de estímulo fiscal adotadas pelo governo para evitar o desaquecimento da atividade doméstica. As ações impactaram positivamente o crédito para compra de veículos e o consignado.
Retrata, por outro lado, o papel proeminente dos bancos oficiais, notadamente o BNDES, no financiamento de curto prazo a pessoas jurídicas. Também denota o papel do banco em operações para formar grandes conglomerados brasileiros.
A participação dos bancos públicos no total do crédito -independentemente do impacto e do custo orçamentário, da adequação ou não da estratégia anticíclica e dos efeitos fiscais, bem como a visão sobre o papel do Estado na economia- recoloca em discussão os desafios que o sistema bancário enfrenta ante a necessidade premente de aumento da oferta de bens e serviços na economia.
O governo, ciente das limitações e da abrangência dos bancos oficiais no aumento da oferta de crédito de longo prazo, entende que caberá aos bancos privados e ao mercado de capitais, preferentemente locais, suprir as empresas com recursos livres com fontes alternativas de poupança financeira (exemplos: letras financeiras debêntures), a taxas e prazos compatíveis, competitivos e contemplando garantias ante o risco intrínseco a investimentos de longo prazo (aeroportos, portos etc.)
A viabilidade de investimentos de longo prazo passa não apenas por medidas governamentais indutoras mas pela retomada da discussão de um conjunto de reformas sob o ponto de vista fiscal, tributário, previdenciário, trabalhista, jurídico. Concretizadas, as reformas contribuiriam para a sustentação dos financiamentos e emissões de longo prazo, com juros cadentes e "spreads" menores.
Ante o ambiente eleitoral em curso, as plataformas dos candidatos e o compromisso do país com o calendário esportivo daqui a quatro e seis anos, espera-se que a discussão dessas reformas seja feita já em 2011 -sem a qual ficará comprometido o crescimento para os próximos anos.

LUIS MIGUEL SANTACREU é analista de instituições financeiras da Austin Rating.



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