São Paulo, domingo, 21 de agosto de 2011

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Classe "A gargalhada" foge dos critérios tradicionais

Publicitários usam alcunha para quem tem renda individual acima de R$ 50 mil

Pelo Critério Brasil, referência no mercado, o topo da pirâmide tem renda familiar superior a R$ 11,48 mil


MARIANA BARBOSA
DE SÃO PAULO

Os muito muito ricos escapam dos critérios de classificação de renda usados por institutos de pesquisa.
Para suprir essa carência, publicitários, marqueteiros e pesquisadores inventaram uma nova categoria, bem acima da tradicional classificação de classes A, B, C, D e E: a classe A gargalhada.
A alcunha não vem da máxima de que rico ri à toa. É onomatopeico: AAA.
E, por ser informal, a definição da renda dos "triple A", para usar o jargão do mercado financeiro, depende do interlocutor.
Para Antonio Fadiga, sócio da agência Fischer & Friends, a classe AAA tem pelo menos dois carros importados na garagem, casa na praia ou no campo e renda individual acima de R$ 50 mil.
"Hoje você fala em classe A e pensa no cara que tem carro zero na garagem, viaja para o exterior, tem filho na faculdade e um negócio", diz Fadiga.
"Mas e se o carro é um 1.0, a viagem foi de pacote para o Paraguai, a faculdade custa R$ 400 e o negócio é um mercadinho? Aí você está falando do 'seu' Tião."
Para Renato Meirelles, presidente do Instituto Data Popular, a A gargalhada tem um caráter emergente: bolso de classe A e cabeça de classe C.
"É o sujeito que tinha um mercadinho e hoje tem uma rede de supermercado. Gosta de cores primárias, Ferrari amarela. São essas pessoas que movem hoje o mercado de luxo."

CRITÉRIO BRASIL
"A A gargalhada está tão distante do resto da sociedade que nem entra nos critérios existentes de pesquisa", diz a publicitária Cristina Freire, consultora de planejamento estratégico.
Pelo chamado Critério Brasil (CB), definido pela Abep (Associação Brasileira das Empresas de Pesquisa), o topo da pirâmide, a classe A1, tem renda familiar superior a R$ 11,48 mil. Mais ou menos o preço de um relógio Cartier ou de um terninho Armani.
O CB define as classes com base na posse de bens, quantidade de banheiros, escolaridade do chefe de família e se tem empregada mensalista ou não.
Hoje, porém, 68% dos jovens da classe C estudaram mais do que os pais. E ter computador e celular (itens não incluídos no CB) hoje diz mais sobre o consumidor do que a posse de um rádio.
"A proliferação do crédito acabou com o Critério Brasil", diz Meirelles. "O critério é uma pesquisa séria. Mas, como todo critério, é arbitrário."
Ainda que defasado, o CB continua sendo a principal referência para anunciantes e publicitários definirem a compra de mídia (espaço publicitário).
A Folha procurou a Abep, que não quis dar entrevista. Meirelles defende o estabelecimento de outro critério, diferente também do critério de renda familiar do IBGE, para dar conta das mudanças socioeconômicas que estão ocorrendo no país: a renda per capita familiar.
"A renda familiar não distingue uma família de duas pessoas de uma de seis pessoas", diz Meirelles, que está contribuindo para o desenvolvimento de um novo critério de classificação socioeconômica para a Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República.


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