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ANÁLISE
Migração para meios eletrônicos reflete amadurecimento do mercado de crédito
ALBERTO SERRENTINO
ESPECIAL PARA A FOLHA
O fenômeno da progressiva migração de crédito para
os meios eletrônicos reflete o
amadurecimento do mercado de crédito a consumo
massificado no Brasil, que
vem se desenvolvendo desde
o controle inflacionário trazido pelo Plano Real.
O varejo vem desempenhando papel fundamental
na democratização do crédito e dos meios de pagamento
eletrônicos. Carnês de crédito direto ao consumidor migraram para cartões próprios
("private label"), usados só no estabelecimento emissor.
Recentemente, o varejo,
em parceria com bancos e
bandeiras, começou a oferecer cartões híbridos (ou "co-branded"), que permitem
condições vantajosas na loja
da bandeira e têm aceitação em outros estabelecimentos.
A relação do varejo com o
crédito e os bancos também
se transformou nos últimos
15 anos. Antes, o varejo controlava sua operação de crédito e sua carteira de clientes
financiados, considerada um
ativo estratégico. O êxito do
setor em gerenciar crédito
massificado a clientes de baixa renda atraiu o interesse de bancos e financeiras.
Começaram então acordos
entre setor financeiro e varejo, que envolveram desde
venda de carteiras e parcerias para gestão do crédito e
exploração de serviços financeiros até formação de sociedades -como Ponto Cred,
Luiza Cred e Fic. Também
ocorreram aquisições, como
as da Hipercard pelo Unibanco e do iBi pelo Bradesco.
Enquanto o varejo direciona sua estratégia de crédito
para cartões híbridos, vira
um agente de transformação
ao ampliar a penetração de
meios de pagamento eletrônicos. Hoje, a C&A tem número de cartões equivalente
ao número de correntistas do
Bradesco, e Renner e Riachuelo, ao de correntistas do
Itaú Unibanco. Isso revela a
capacidade do varejo em ampliar o crédito para consumo,
suportado pelos grandes
bancos comerciais.
Para o varejo, os aspectos
positivos desse processo são:
mais escala, menos risco, foco no negócio principal e
possibilidade de acelerar a
expansão por menor necessidade de capital de giro para
financiar o cliente.
Para o consumidor final,
há ampliação de acesso a crédito e potencial diminuição
nos juros de financiamentos.
De outro lado, mais concentração varejista leva a alguma "commoditização"
(homogeneização), tirando o
diferencial que algumas redes tinham de conhecer melhor o cliente e aprovar crédito que outros recusavam. Taxas e planos também tendem a nivelar-se.
Mas o mercado deve continuar se expandindo. As classes B2 (segmento de menor
renda da classe B) e C passaram de 50% da população
em 2003 para 68% em 2010.
Melhora em emprego, renda
e confiança -e ampliação e
barateamento na oferta de
crédito- levou à explosão do consumo financiado.
O crédito livre para pessoa física no Brasil não chega a 15% do PIB, o que deixa forte
perspectiva de crescimento para os próximos anos.
ALBERTO SERRENTINO é consultor e sócio
sênior da GS&MD - Gouvêa de Souza
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