São Paulo, terça-feira, 21 de setembro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

ANÁLISE

Migração para meios eletrônicos reflete amadurecimento do mercado de crédito

ALBERTO SERRENTINO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O fenômeno da progressiva migração de crédito para os meios eletrônicos reflete o amadurecimento do mercado de crédito a consumo massificado no Brasil, que vem se desenvolvendo desde o controle inflacionário trazido pelo Plano Real.
O varejo vem desempenhando papel fundamental na democratização do crédito e dos meios de pagamento eletrônicos. Carnês de crédito direto ao consumidor migraram para cartões próprios ("private label"), usados só no estabelecimento emissor.
Recentemente, o varejo, em parceria com bancos e bandeiras, começou a oferecer cartões híbridos (ou "co-branded"), que permitem condições vantajosas na loja da bandeira e têm aceitação em outros estabelecimentos.
A relação do varejo com o crédito e os bancos também se transformou nos últimos 15 anos. Antes, o varejo controlava sua operação de crédito e sua carteira de clientes financiados, considerada um ativo estratégico. O êxito do setor em gerenciar crédito massificado a clientes de baixa renda atraiu o interesse de bancos e financeiras.
Começaram então acordos entre setor financeiro e varejo, que envolveram desde venda de carteiras e parcerias para gestão do crédito e exploração de serviços financeiros até formação de sociedades -como Ponto Cred, Luiza Cred e Fic. Também ocorreram aquisições, como as da Hipercard pelo Unibanco e do iBi pelo Bradesco.
Enquanto o varejo direciona sua estratégia de crédito para cartões híbridos, vira um agente de transformação ao ampliar a penetração de meios de pagamento eletrônicos. Hoje, a C&A tem número de cartões equivalente ao número de correntistas do Bradesco, e Renner e Riachuelo, ao de correntistas do Itaú Unibanco. Isso revela a capacidade do varejo em ampliar o crédito para consumo, suportado pelos grandes bancos comerciais.
Para o varejo, os aspectos positivos desse processo são: mais escala, menos risco, foco no negócio principal e possibilidade de acelerar a expansão por menor necessidade de capital de giro para financiar o cliente. Para o consumidor final, há ampliação de acesso a crédito e potencial diminuição nos juros de financiamentos.
De outro lado, mais concentração varejista leva a alguma "commoditização" (homogeneização), tirando o diferencial que algumas redes tinham de conhecer melhor o cliente e aprovar crédito que outros recusavam. Taxas e planos também tendem a nivelar-se.
Mas o mercado deve continuar se expandindo. As classes B2 (segmento de menor renda da classe B) e C passaram de 50% da população em 2003 para 68% em 2010.
Melhora em emprego, renda e confiança -e ampliação e barateamento na oferta de crédito- levou à explosão do consumo financiado.
O crédito livre para pessoa física no Brasil não chega a 15% do PIB, o que deixa forte perspectiva de crescimento para os próximos anos.


ALBERTO SERRENTINO é consultor e sócio sênior da GS&MD - Gouvêa de Souza


Texto Anterior: Frase
Próximo Texto: Varejo: Walmart estuda lojas menores nos EUA para revitalizar crescimento
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.