São Paulo, terça-feira, 21 de setembro de 2010 |
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NIZAN GUANAES Chega de promover os idiotas
O ARTIGO DE hoje, na verdade, começou uma semana antes. Você pode ler os primeiros parágrafos em colunas publicadas na Folha.com: um diário de impressões de mercado, "branding" e comportamento, resultado de uma extensa viagem de negócios que tenho feito pelo mundo explicando, até onde consigo, esse "New Brazil" para plateias ávidas em entendê-lo. Essa viagem começou em Nova York, passou por Pequim, Tianjin (onde participei do "World Economic Forum"), Hong Kong e, agora de novo, Nova York. Foi aqui o grande concerto de João Carlos Martins regendo a orquestra do Sesi, com Arthur Moreira Lima ao piano, que vi e ouvi no domingo no Lincoln Center. Se existe alguém que é brasileiro e não desiste nunca, esse alguém é o maestro João Carlos Martins. Ele foi ovacionado num Avery Fisher Hall lotado, regendo Villa-Lobos com uma emoção que supera todas as barreiras que o maestro tem a superar. Villa-Lobos, como a maioria das marcas e das obras brasileiras, carece ainda do reconhecimento do tamanho de sua contribuição. Ser reconhecido por quem conhece é prestígio. Sucesso é quando quem não conhece um determinado assunto o conhece. As Bachianas Brasileiras precisam, merecem e devem ser conhecidas. Num total de nove compostas por Villa-Lobos, elas são obras-primas do século 20, misturando a influência de Bach com o folclore brasileiro e a nossa música popular. Composta em 1942, a Bachiana Número Sete foi dedicada ao grande ministro da Educação de Vargas, Gustavo Capanema. Cada um dos seus movimentos une Bach a uma dança ou influência brasileira: o ponteio, a quadrilha caipira, o desafio e o choro. Uma pesquisa mundial do banco HSBC mostra que as marcas brasileiras ainda sofrem de baixo reconhecimento mundial. Ao ouvir Villa-Lobos na beleza daquela sala lotada, me senti emocionado e devedor ao grande Heitor. O que se joga fora de patrocínio no Brasil promovendo coisas idiotas e sem relevância é uma tristeza. O incentivo da lei deve ser usado para tornar o importante reconhecido. O Brasil deve a Villa-Lobos reconhecimento mundial, mas reconhecimento mesmo é fazer as Bachianas tão conhecidas como as Havaianas. Se o Brasil pensa que vai ser respeitado sem cultura, está redondamente enganado. Não podemos fazer como a Rússia, que, sendo o país de Tolstói e Dostoiévski, se deixa ser conhecida hoje pelo novo rico que compra o maior barco e a mansão mais horrenda de Londres. Os patrocinadores dessa noite fabulosa de Villa-Lobos em Nova York estão de parabéns. O Brasil aqui celebrado é condizente com a potência econômica que está sendo erguida. E aí a liderança, a obstinação de João Carlos Martins é digna de aplauso. Ele não é apenas um grande artista. É um pregador teimoso e devotado desse Brasil de Villa-Lobos e de Gustavo Capanema, que tinha como chefe de gabinete no ministério simplesmente Carlos Drummond de Andrade. É um Brasil que não é commodity cultural, mas um produto de altíssimo valor agregado. Que já começa a ser reconhecido pelo mundo, mas ainda menos do que deve e precisamos. O HSBC patrocinou com a revista "Time Out" um guia cultural do Brasil que tenta cobrir o grande alcance que nossa cultura já tem no globo, do Asakusa Samba Festival, em Tóquio, a bailes de forró em Paris, aos projetos de Burle Marx e Isay Weinfeld espalhados por vários países até um bar em Cracóvia, na Polônia, que serve caipiroskas. O chamado "soft power" brasileiro começa a se consolidar. O mesmo desafio que o Brasil tem na economia ele tem na área cultural. É tudo a mesma coisa. Biscoito fino para as massas tem de ser a política econômica e cultural do país. NIZAN GUANAES, publicitário e presidente do Grupo ABC, escreve às terças, a cada 15 dias, nesta coluna. AMANHÃ EM MERCADO: Mario Mesquita Texto Anterior: Dólar reage antes de ação do Fundo Soberano no câmbio Próximo Texto: Montadora: Chinesa estuda comprar parte da GM Índice | Comunicar Erros |
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