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ANÁLISE
Britânico não deverá reagir como o francês
Para 48% dos britânicos, culpa não é do atual governo, mas do Partido Trabalhista, que esteve no poder por 13 anos
VAGUINALDO MARINHEIRO
DE LONDRES
O corte de gastos anunciado pelo governo britânico
atingirá todos: ricos vão perder benefícios; pobres pagarão mais por moradias subsidiadas; jovens verão anuidades das universidades aumentar; idosos terão de esperar mais para se aposentar; 1
em cada 12 funcionários públicos perderá o emprego.
Qual será a reação? Essa é
apenas uma das muitas dúvidas que ficaram no ar após o
discurso de George Osborne,
ministro das Finanças.
Faltaram muitos detalhes
e mesmo jornalistas e analistas ainda tentam entender algumas das medidas.
Além disso, a maioria não
terá efeito imediato. O "child
benefit", pago a todos com filhos menores no país, só será
cortado dos mais ricos em
2012. A mudança na aposentadoria começa em 2016.
Sindicatos chamaram os
cortes de "massacre". Dizem
que já preparam uma onda
de greves para fazer o governo mudar de ideia.
À noite, houve protestos
em Londres. O maior reuniu
3.000 pessoas, entre estudantes e sindicalistas. Três
foram detidos após tentar invadir o Ministério dos Negócios. Mas quase ninguém
acredita que haverá no Reino
Unido algo parecido com o
que ocorre na França hoje.
PASSIVIDADE
Por que no Reino Unido seria diferente? Alguns usam a
personalidade passiva do
britânico para explicar. É um
povo que aceita. Diferentemente de seus vizinhos franceses, que protestam.
Outro fator é quem responsabilizar pelos problemas
que levaram aos cortes.
Pesquisa divulgada ontem
mostrou que só 18% culpam
o governo atual pela situação
econômica do país; 48%
apontam o dedo para o Partido Trabalhista, que esteve no
poder por 13 anos.
A história mostra que britânicos são passivos só até
certo ponto, principalmente
se algo atinge seus bolsos.
Em março de 1990, cerca
de 200 mil foram às ruas de
Londres protestar contra
uma nova taxa criada pela
então primeira-ministra Margaret Thatcher. Houve confronto com a polícia; 113 pessoas ficaram feridas e mais
de 300 foram presas.
Os protestos e a taxa são
apontados com um dos principais motivos que forçaram
a renúncia de Thatcher em
novembro do mesmo ano.
Seu sucessor, John Major,
aboliu a cobrança.
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