São Paulo, quinta-feira, 21 de outubro de 2010

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ANÁLISE

Britânico não deverá reagir como o francês

Para 48% dos britânicos, culpa não é do atual governo, mas do Partido Trabalhista, que esteve no poder por 13 anos

VAGUINALDO MARINHEIRO
DE LONDRES

O corte de gastos anunciado pelo governo britânico atingirá todos: ricos vão perder benefícios; pobres pagarão mais por moradias subsidiadas; jovens verão anuidades das universidades aumentar; idosos terão de esperar mais para se aposentar; 1 em cada 12 funcionários públicos perderá o emprego.
Qual será a reação? Essa é apenas uma das muitas dúvidas que ficaram no ar após o discurso de George Osborne, ministro das Finanças.
Faltaram muitos detalhes e mesmo jornalistas e analistas ainda tentam entender algumas das medidas.
Além disso, a maioria não terá efeito imediato. O "child benefit", pago a todos com filhos menores no país, só será cortado dos mais ricos em 2012. A mudança na aposentadoria começa em 2016.
Sindicatos chamaram os cortes de "massacre". Dizem que já preparam uma onda de greves para fazer o governo mudar de ideia.
À noite, houve protestos em Londres. O maior reuniu 3.000 pessoas, entre estudantes e sindicalistas. Três foram detidos após tentar invadir o Ministério dos Negócios. Mas quase ninguém acredita que haverá no Reino Unido algo parecido com o que ocorre na França hoje.

PASSIVIDADE
Por que no Reino Unido seria diferente? Alguns usam a personalidade passiva do britânico para explicar. É um povo que aceita. Diferentemente de seus vizinhos franceses, que protestam.
Outro fator é quem responsabilizar pelos problemas que levaram aos cortes.
Pesquisa divulgada ontem mostrou que só 18% culpam o governo atual pela situação econômica do país; 48% apontam o dedo para o Partido Trabalhista, que esteve no poder por 13 anos.
A história mostra que britânicos são passivos só até certo ponto, principalmente se algo atinge seus bolsos.
Em março de 1990, cerca de 200 mil foram às ruas de Londres protestar contra uma nova taxa criada pela então primeira-ministra Margaret Thatcher. Houve confronto com a polícia; 113 pessoas ficaram feridas e mais de 300 foram presas.
Os protestos e a taxa são apontados com um dos principais motivos que forçaram a renúncia de Thatcher em novembro do mesmo ano.
Seu sucessor, John Major, aboliu a cobrança.


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