São Paulo, sábado, 22 de janeiro de 2011

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MICHAEL SPENCE

Cinco passos adiante em 2011


Os países avançados e emergentes que estão com superavit crônicos deveriam se livrar deles


O PIOR DA CRISE financeira/econômica parece ter passado. Os mercados de ativos apresentaram desempenho razoavelmente bom em 2010.
O crescimento retornou, nos Estados Unidos e em partes da Europa. E o crescimento dos emergentes retornou aos níveis anteriores à crise, e parece ser sustentável.
Mas manter o crescimento ele- vado nos mercados emergentes depende de evitar uma segunda desaceleração nas economias avançadas, as quais continuam a responder por grande (se bem que decrescente) proporção de suas exportações.
Crescimento lento é administrável. Crescimento negativo não é.
Em diversos países avançados, entre os quais os Estados Unidos, as perspectivas de crescimento e emprego começam a divergir, o que coloca em risco a coesão social e a abertura econômica.
A situação resulta em larga medida de dinâmica pós-crise previsível, à medida que empresas e domicílios consertam os estragos em seus balanços. Mas também refletem decisões não cooperativas de política econômica.
Assim, que forma poderia tomar um conjunto de políticas econômicas coordenado mundialmente?
Primeiro, seria preciso que contivesse planos confiáveis para a restauração do equilíbrio fiscal na Europa e nos Estados Unidos.
Na Europa, isso significaria concordar com um compartilhamento de custos para recapitalização dos países cujos deficit e dívidas resultaram em corte de acesso a mercados ou em custos de captação proibitivos.
Nos Estados Unidos, o principal desafio é restaurar o balanço fiscal sem prejudicar a recuperação e o futuro crescimento.
O segundo item na agenda é que os Estados Unidos abandonem o relaxamento quantitativo, que vem sujeitando as economias emergentes a influxos esmagadores de capital, causando alta nos preços das commodities, inflação e bolhas nos preços dos ativos. Terceiro, os países avançados e emergentes que estão operando com superavit crônicos deveriam se livrar deles. As decisões de política econômica necessárias para tanto variam de país a país e envolvem mudanças estruturais.
No caso da China, uma parte essencial de seu 12º plano quinquenal é transferir renda ao setor domiciliar, cujo índice de poupança é elevado, mas ainda inferior ao do setor empresarial.
A economia então poderia usar a poupança domiciliar (com a intermediação financeira apropriada) a fim de financiar o investimento empresarial e governamental, em lugar de esse dinheiro ser usado para adquirir títulos da dívida pública norte-americana.
O quarto item se relaciona ao fato de que a economia mundial estará desequilibrada enquanto os Estados Unidos mantiverem grandes deficit em conta-corrente.
Com a reacomodação de consumo e poupança internos, pós-crise, a demanda agregada norte-americana continuará deprimida.
Em prazo mais longo, essa disparidade precisa ser corrigida por meio de demanda externa maior e por uma elevação no potencial de exportação.
Em quinto e último lugar, os grandes detentores de reservas cambiais precisam concordar em utilizá-las de maneira que ajude a manter a estabilidade financeira mundial e que impeça movimentos excessivamente instáveis de capital e taxas de câmbio.
Com surtos periódicos de contágio na zona do euro e a incerteza residual quanto ao compromisso dos Estados Unidos para com um dólar forte e disciplina fiscal, os grandes detentores de reservas da Ásia e do golfo Pérsico precisam se tornar um contrapeso que propicie estabilização.
Nenhum desses passos é fácil. Mas, somados, ajudariam a reduzir a incerteza e a restaurar um padrão de estabilidade e de crescimento inclusivo na economia mundial, e com isso reforçariam sua abertura continuada.
Para evitar desfechos de qualidade mais baixa e acidentes de percurso na política econômica, a coordenação internacional tem papel vital, ainda que difícil, a desempenhar.

MICHAEL SPENCE ganhou o Nobel de Economia em 2001 e é professor emérito da Universidade Stanford. Este artigo foi distribuído pelo Project Syndicate.
Tradução de PAULO MIGLIACCI

AMANHÃ EM MERCADO:
Nouriel Roubin
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