São Paulo, terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

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Acordos de Brasil e China ficam no papel

Países assinaram 22 tratados desde 2004, mas a maioria não vingou; faltou visão empresarial, dizem críticos

Mercados de carnes bovina e suína e de tabaco continuam restritos; Embraer deve fechar fábrica na China

Reprodução/2009
Propaganda da Vale para a China com Ronaldo

PATRÍCIA CAMPOS MELLO
DE SÃO PAULO
FABIANO MAISONNAVE
DE PEQUIM

Desde 2004, quando o líder chinês Hu Jintao visitou o Brasil pela primeira vez, Brasil e China assinaram 22 acordos. Mas, entre os tratados economicamente relevantes, poucos saíram do papel.
A exportação de carne suína para a China, que teve protocolo assinado em 2004, continua na estaca zero.
A exportação de carne bovina, outro acordo de 2004, é baixíssima -exporta-se via Hong Kong, pois há poucos frigoríficos habilitados a vender para a China.
A exportação de tabaco tampouco deslanchou -apesar de um tratado de 2010-, porque só um Estado (RS) está autorizado a vender. A carne de frango é uma das poucas boas notícias.
Apesar de um dos acordos de 2004 dizer "apoiar o empreendimento sino-brasileiro de aviação regional", a Embraer está prestes a fechar sua fábrica na China.
O Brasil também descumpriu sua parcela de compromissos. Em 2004, foi assinado acordo segundo o qual "o Brasil reconhece o status de economia de mercado para a China". O reconhecimento não foi formalizado. Para isso, é preciso o aval da Camex (Câmara de Comércio Exterior), além de portaria da secretaria de comércio exterior.
Em 2004, foi criada a Cosban (Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação) -que só se reuniu uma vez.
"Houve um exagero em assinatura de acordos, muitas vezes os tratados eram meras declarações de intenções dos dois lados", diz Sérgio Amaral, presidente do Conselho Empresarial Brasil-China.
"A relação com a China era dominada por uma visão de coordenação Sul-Sul para reformar as instituições globais; hoje, existe uma visão mais equilibrada, temos coincidências e diferenças políticas, e se deram conta de que é preciso incluir a visão empresarial."
O Brasil quer diversificar a pauta de exportação para o mercado chinês, muito dominada por minério de ferro, petróleo, soja e derivados. A presidente Dilma Rousseff, aliás, espera uma maior abertura do mercado em sua visita à China, em abril.
Mas está difícil, admite o governo. "É uma corrida de obstáculos, quando vencemos um, aparece outro", diz Célio Porto, secretário de Relações Internacionais do Ministério da Agricultura.
Apesar de protocolo para facilitar a entrada de carne suína brasileira na China, a exportação ainda é zero.
"É tudo burocrático e lento", diz Pedro de Camargo Neto, presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína. "Estamos tentando habilitar frigoríficos -mas pode ocorrer amanhã, em três anos ou 20."
No caso da exportação de carne bovina, a China habilitou apenas quatro estabelecimentos brasileiros a exportar, e podem sair mais cinco.
Por isso, a maior parte das exportações entra via Hong Kong, por contrabando.


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