São Paulo, terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

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China se queixa de burocracia e incertezas no Brasil

Potência asiática reclama de "medo e ameaças" contra investimento chinês, estimado em US$ 17 bi em 2010

Também preocupa o destino do investimento em áreas estratégicas, a exemplo de minério de ferro e terras

DE PEQUIM
DE SÃO PAULO


A China aposta no investimento como forma de equilibrar o comércio, mas a falta de garantias de parte do governo brasileiro, a burocracia e incertezas sobre a rentabilidade são obstáculos.
Outro problema apontado na relação bilateral é a política de preços de minério de ferro praticada pela Vale.
"O governo chinês tem notado o desequilíbrio e quer que nossas empresas invistam mais no Brasil, é uma maneira de melhorar o problema do comércio", afirma Wu Hongying, diretora da seção latino-americana dos Institutos Chineses de Relações Internacionais Contemporâneas (Cicir).
Mas, apesar dos investimentos recentes, Wu afirma que o Brasil envia sinais ambíguos. "Os empresários estão confusos. O Brasil queria muito o investimento chinês, mas, quando isso aconteceu, teve de enfrentar muitas ameaças e muito receio."
Os investimentos da China no país demoraram a deslanchar, mas agora batem recorde. Segundo estimativa da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização, a China pode ter investido até US$ 17 bilhões no Brasil em 2010, o que a transformaria na maior fonte de investimento estrangeiro direto.
Apesar de os investimentos serem bem-vindos, há preocupações. Primeiro porque a China aplica dinheiro essencialmente em áreas estratégicas: 80% do montante vai para commodities, projetos ligados a soja, petróleo, minérios e aço.
"Os acordos de investimento de 2004 previam um maciço investimento chinês que não ocorreu, a não ser em setores estratégicos para o abastecimento de matérias-primas da China", diz o consultor Welber Barral, ex-secretário de comércio exterior.
Além disso, empresas brasileiras que investem na China enfrentam obstáculos para acessar o mercado.

BARREIRAS
A Embraer está prestes a fechar sua fábrica em Harbin, onde fazia o ERJ-145, um avião de 50 lugares. Falta entregar uma aeronave, o que deve ocorrer até abril, e depois não há nenhuma encomenda. A Embraer pediu para montar lá o Embraer 190, para cem pessoas.
Mas a Avic está desenvolvendo um avião similar com a canadense Bombardier, concorrente da Embraer. Por isso, o governo chinês reluta em conceder à Embraer autorização para produzir -quer evitar concorrência.
"Com os aviões, o Brasil não pode ser inocente e pensar: "Somos duas nações do Sul, e todo mundo deve ser amigo entre si"", diz James McGregor, consultor da APCO Worldwide. "É uma economia planejada; eles não vão criar um competidor."
Empresas brasileiras que tentavam participar de um centro de distribuição de minério na China não receberam autorização do governo chinês até hoje. A Marcopolo queria aumentar o escopo da produção, mas não consegue autorização.
Com relação às dificuldades das empresas brasileiras, Wu ressalta que o gigante asiático tem sido o país que mais recebe investimento estrangeiro no mundo por oferecer várias vantagens, como um enorme mercado consumidor, regras estáveis e possibilidade de remessas de lucro ao exterior.
No aspecto comercial, as siderúrgicas chinesas reclamaram em 2010 da política de preços praticados pela Vale e pelas outras duas gigantes de minério de ferro.
(PATRÍCIA CAMPOS MELLO E FABIANO MAISONNAVE)


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