São Paulo, terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

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ANÁLISE SAFRAS

Soja perde área para o milho e para o algodão nos Estados Unidos neste ano

FERNANDO MURARO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Em antecipação ao seu tradicional encontro anual de fevereiro em Washington, a ser realizado nas próximas quinta e sexta-feiras, o Usda (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) divulgou, na semana passada, um relatório com as mais diversas projeções de oferta e de demanda para a agricultura americana e para o mundo nos próximos dez anos.
A despeito de as projeções de longo prazo não apresentarem grande acuidade com a realidade observada, o documento deste ano, com base no cenário de rentabilidade de novembro do ano passado, mostrou que, em relação às quatro principais culturas dos Estados Unidos (milho, soja, algodão e trigo), a área de soja deverá ser a que menos crescerá.
Em virtude dos excelentes preços, a área plantada total dessas quatro lavouras atingirá, segundo o Usda, a marca de 97 milhões de hectares, ante 93 milhões em 2010.
Mas, enquanto a área de algodão no delta do Mississippi crescerá 18,5%, a do trigo, 6,3% e a do milho, 4,3%, a da soja vai avançar apenas 0,4%. Ou seja, os plantios de milho e de algodão vão crescer às expensas do da soja.
Se tomarmos hoje os preços do mercado físico em algumas regiões do Meio-Oeste dos EUA, vamos encontrar uma relação amplamente positiva ao plantio da gramínea em detrimento do da oleaginosa -atualmente, a relação está na faixa de dois para um, ou seja, com duas sacas de milho compra-se uma de soja. Esse nível não era observado desde 2007.
O próprio chefe dos economistas do Usda, Joe Glauber, afirmou, em recente seminário, que a lucratividade do milho nos Estados Unidos, dada as condições atuais de mercado futuro na Bolsa de Chicago, pode aproximar-se de US$ 1.500 por hectare.
Esse rendimento é quase US$ 300 por hectare superior ao da soja.
Como os produtores norte-americanos obtêm altos rendimentos produtivos no cultivo de milho, não será estranho observarmos uma área entre 1,5 milhão e 2 milhões de hectares maior do que a do ano passado.
A área de soja só não deve cair mais por conta de muitos agricultores que cultivaram o trigo de inverno em regiões dos Estados do leste do cinturão de produção americano (Illinois, Indiana e Ohio).
Em virtude dos altos preços da gramínea, eles devem fazer safrinha com soja neste ano, já que a colheita do trigo no mês de junho impossibilita o plantio de milho na primavera, mas não o de soja. Essa área de safrinha de soja pode atingir 2 milhões de hectares.
De todo modo, mesmo com a manutenção da superfície usada no ano passado, o quadro de abastecimento de soja na safra 2011/12 deve se mostrar bastante apertado, com estoques para menos de 20 dias do consumo anual norte-americano -cenário que não permite nenhum revés climático durante a primavera e/ou verão nos EUA.
Assim sendo, a tensão no cinturão de produção nos EUA e nos mercados futuros em Chicago deve ser instalada na metade do ano.

FERNANDO MURARO JR. é engenheiro agrônomo e analista de mercado da AgRural Commodities Agrícolas.


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