São Paulo, terça-feira, 22 de junho de 2010

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Capitalização de estatais pode "secar" mercado

Petrobras e Banco do Brasil devem monopolizar apetite de investidores

Operações envolvem o lançamento de ações por R$ 110 bi; Fundo Soberano é usado para aumentar fatia da União

VALDO CRUZ
LEILA COIMBRA
DE BRASÍLIA

Coroamento da política do presidente Lula de aumentar o poder do Estado na economia, as operações de capitalização do Banco do Brasil e da Petrobras podem fazer secar o mercado de lançamento de ações para outras empresas no país.
Analistas e assessores do governo avaliam que o momento já não é muito propício no mercado internacional, diante da crise europeia, e que as duas operações devem absorver todo o apetite dos investidores por empresas brasileiras nesse final de ano.
A capitalização da Petrobras e do Banco do Brasil pode envolver o lançamento de ações por R$ 110 bilhões -R$ 100 bilhões da estatal de petróleo, considerada a maior do mercado mundial, e R$ 10 bilhões do banco.
A operação da petrolífera será aprovada hoje oficialmente em assembleia extraordinária dos acionistas. A do BB começou a ser aberta ao público ontem.
Realizadas quase que simultaneamente, elas seguem estratégias delineadas dentro do Palácio do Planalto de fazer crescer a fatia da União na Petrobras e aumentar o poder de fogo do BB no mercado de crédito no país.

FALTA DE APETITE
Mas existe o risco de o mercado não absorver totalmente as ações das duas estatais. Com a falta de apetite dos investidores, tanto a capitalização da Petrobras quanto a do BB podem sair por um preço menor que o esperado.
Das sete ofertas de papéis iniciais colocadas no mercado neste ano, apenas duas ficaram dentro da faixa de preço estimada por seus coordenadores: a Mills Engenharia e a Ecorodovias. As outras cinco ficaram aquém do previsto inicialmente.
As ofertas da Petrobras e da Banco do Brasil devem empurrar para o próximo ano a abertura do capital da empresa de mineração da CSN, a Casa de Pedra, segundo analistas de mercado.
A falta de apetite dos investidores no caso da Petrobras não chega a preocupar o governo, porque a ordem de Lula é comprar tudo o que os acionistas minoritários não bancarem.
Desde o início de seu mandato, Lula sempre se disse incomodado com o fato de a União ter só 32% da Petrobras, enquanto estrangeiros detêm quase 40% -ele sonha em subir essa fatia do governo para 50%, "devolvendo" o controle do capital total para o país.

PREVI E FUNDO
Nesse caso, para bancar esse aporte extra, o governo deve usar recursos do Fundo Soberano -dos cerca de R$ 17 bilhões em caixa, R$ 1,7 bilhão já será usado na capitalização do Banco do Brasil iniciada ontem.
No caso do BB, o governo já montou uma estratégia caso o mercado não adquira todo o lote de ações ofertado.
A Previ, fundo de pensão dos funcionários do banco, deve investir forte na operação. Além disso, o Tesouro já será obrigado a investir mais R$ 2,3 bilhões, além dos recursos do Fundo Soberano, para que a participação da União não seja reduzida.


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