São Paulo, quinta-feira, 22 de julho de 2010

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SILVIO MEIRA

O meio é... programável!


Programando máquinas sociais, cada um poderá criar aplicações e prover novas formas de expressão

NESTA SEMANA, Marshall McLuhan completaria 99 anos, se vivo fosse; o mestre não está conosco há quase 30 e a frase que muitos entendem sumarizar suas teses ("o meio é a mensagem") foi escrita há mais de 45 anos. Neste quase meio século, aconteceu muita coisa.
O universo informacional teorizado por McLuhan era primordialmente de comunicação para disseminação de conteúdo; o mundo que vivemos cada vez mais intensamente parece ser outro, de conectividade para interação entre agentes independentes.
No primeiro, a importância e o poder do centro é muito grande; detentor dos meios e capaz de controlar o que as pontas vão ler, ouvir e ver, o centro é quase o dono do mundo.
No segundo, as pontas (ou bordas) têm papel muito mais importante e relevante: as plataformas informacionais que suportam conectividade para interação permitem que a periferia se expresse sem o controle ou editoria do programador central e que interajam, com o centro e como pares, numa nova e não mediada forma de expressão, em muito larga escala. Dito de outra forma, estamos vivendo um período em que a audiência está se transformando em comunidade.
Isso todo mundo já sabe. E sabe também que o tal Primeiro Mundo, acima, é o da mídia "de massa", como este jornal, e que o segundo é o mundo das redes. Especialmente das redes sociais (virtuais) que estão só começando a permear as relações humanas, de negócios e poder, ainda mais quando se nota que o Twitter surgiu em 2007 (e tem 100 milhões de participantes, hoje) e que o Facebook, que tinha "meros" 100 milhões de usuários em agosto de 2008, chegou aos 500 milhões de pessoas no mesmo 21 de julho de 2010 em que McLuhan teria 99 anos de idade.
Em redes sociais como Twitter e Facebook, não há um meio como mensagem, muito pelo contrário; os dois são ambientes de formação de comunidades, em que cada um escolhe com que e quem se conecta, para escrever suas histórias de forma coletiva e compartilhada. Relendo a história da web, lá no começo havia um ambiente que só podíamos "ler"; a escolha era maior, mas, ao fim e ao cabo, víamos e ouvíamos a rede. Podíamos perguntar alguma coisa (ao Google, por exemplo), mas isso era muito pouco.
Não havia nada -ou havia muito pouco- nosso na rede. A emergência de plataformas que passaram a permitir a quem era membro da audiência, no passado, se tornar ator, no presente, criou uma rede onde podemos, também, "escrever". Escrever, aqui, abrange de vídeos no YouTube a comentários nos blogs, chegando às conexões que criamos e nas histórias que compartilhamos nas redes sociais.
No último caso, a mudança pode ser imperceptível e parecer pequena, mas é um salto muito grande: cada um "programa" sua rede, criando suas conexões e decidindo quem ouve e vê e para quem fala. Em redes sociais, somos quase todos programadores, se bem que de forma ainda ingênua.
Mas isso está para mudar: está surgindo uma web que todos podem programar: Twitter e Facebook, para citar dois, não são apenas redes sociais, são plataformas programáveis em rede, máquinas sociais cuja função e propósito podem ser, em boa parte, estendidos e redefinidos por quem detenha o conhecimento para tal. E o mesmo vale para infraestruturas de suporte a processos de negócios como salesforce.com: em vez de programar computadores, como no passado, vamos cada vez mais programar a própria web, descortinando horizontes de inovação em profundidade, escala e velocidade que nem McLuhan nem ninguém, mesmo alguns poucos anos atrás, imaginaria.
O impacto dessa mudança será revolucionário. Passando a programar máquinas sociais, cada um vai poder criar suas próprias aplicações e prover novas formas de articulação e expressão em rede... e a web emergente desta década, que nós todos programaremos, será o equivalente virtual de uma explosão cambriana, período em que surgiram quase todos os filos animais.
Pense nas consequências...


SILVIO MEIRA, 55, fundador do www.portodigital.org e cientista-chefe do www.cesar.org.br , escreve mensalmente nesta coluna.

@srlm

AMANHÃ EM MERCADO:
Rodolfo Landim



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