São Paulo, domingo, 22 de agosto de 2010

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VINICIUS TORRES FREIRE

Oito anos em oito dias

Em oito dias, diferença entre Dilma e Serra dobra; em oito anos, PSDB viveu desmonte e não fez oposição

É DIFÍCIL dizer se foram os programas eleitorais de TV e rádio que motivaram diretamente a nova arrancada de Dilma Rousseff (PT) no Datafolha. Apenas um terço dos eleitores declara ter visto as campanhas do horário eleitoral gratuito.
Não se sabe para quantos desses eleitores a propaganda na TV foi influência decisiva na escolha do candidato a presidente. As conversas políticas suscitadas pelo alvoroço da primeira semana mais popular da campanha também podem ter levado os eleitores a pensar melhor nos seus votos -e alterá-los.
Ainda assim, a distância entre a petista Dilma e José Serra (PSDB) é maior entre os eleitores que declaram ter visto a campanha na TV (53% a 29%) do que entre os demais (44% a 31%). Além disso, na opinião dos eleitores, a petista está melhor no horário eleitoral da TV do que o tucano (49% a 27%).
No total do eleitorado, a parcela de indecisos e sem candidatos variou muito pouco, se tanto. Eram, somados, 14% na pesquisa encerrada no dia 12, ante 12% do levantamento concluído na sexta-feira, dia 20.
A indecisão diminuiu de modo mais significativo apenas entre os eleitores do Nordeste. Dilma aparentemente cresceu mais tirando votos de Serra. Mas Marina Silva (PV) também perdeu eleitores.
A distância entre Dilma e Serra cresceu 17 pontos percentuais entre os eleitores entre 16 e 24 anos. A diferença aumentou 14 pontos entre os que não passaram do ensino fundamental, também 14 pontos entre os que vivem no Nordeste e 12 pontos entre as mulheres. Foram as maiores disparadas da petista entre as categorias do eleitorado pesquisadas pelo Datafolha.
Na média do eleitorado, a distância entre os dois candidatos aumentou nove pontos. Dilma tem 47% das intenções de voto no primeiro turno, ante 30% de José Serra.
O tucano ganhou votos apenas entre os eleitores maiores de 45 anos. Não evoluiu em nenhuma região do país, em nenhuma categoria de renda ou instrução. Ficou praticamente estagnado entre os eleitores com ensino superior.
Em termos absolutos, levando em conta as categorias de maior peso na eleição, a petista parece ter sugado mais votos do tucano entre as mulheres e entre os eleitores de menor instrução.

SEM IMUNIDADE
A opinião do eleitorado que viu a campanha na TV não é nada auspiciosa para os tucanos. O recuo da votação de Serra em quase todas as frentes do eleitorado menos ainda. O fato de Dilma bater Serra no primeiro turno com folga deve fazer minguar a fonte de dinheiro para o PSDB. A debandada de aliados e partidários, já notória na semana passada, no mínimo não deve diminuir. Obviedades. Mas como o sistema de defesa imunopolítico da candidatura Serra veio a ficar tão frágil?
Há os conflitos de Serra com os tucanos de Ceará, Amazonas, Minas. Há o deserto tucano no Rio, em Pernambuco, na Bahia. A ruína no Rio Grande do Sul e em Alagoas. Etc. Mas se trata de um "problema Serra" ou do desmonte do PSDB?
O PSDB perdeu em 2002 e não reorganizou o partido, esvaziado de quadros e até de caciques, para nem falar de bases sociais. Perdeu em 2006, ficou inerte, não fez oposição, não inventou um programa. Ficou sem nada a declarar.

vinit@uol.com.br


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