São Paulo, domingo, 22 de agosto de 2010

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BNDES infla números, dizem críticos

Critérios adotados em estudo sobre a atuação do banco valorizam os ganhos proporcionados por empréstimos

Trabalho realça benefícios sem calcular custo de subsídios que reforçaram cofres da instituição na crise

RICARDO BALTHAZAR
DE SÃO PAULO

Um estudo apresentado na semana passada para defender o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) contra os ataques que ele vem sofrendo foi recebido com ceticismo pelos críticos do banco.
Na quinta-feira, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do banco, Luciano Coutinho, exibiram o trabalho como prova de que os benefícios gerados pelo BNDES superam o custo pago pelo país para subsidiar as empresas que ele financia.
Mas o estudo não oferece nenhuma estimativa desse custo e adota premissas que contribuem para inflar os ganhos obtidos com os projetos financiados pelo banco oficial, argumentam os críticos.
Desde o ano passado, o governo injetou R$ 180 bilhões nos cofres do BNDES, dinheiro que o Tesouro tomou emprestado na praça para que o banco o repassasse cobrando taxas de juros inferiores às das instituições comerciais.
O custo dessa operação para o governo é difícil de calcular, porque o BNDES levará décadas para devolver os recursos que recebeu do Tesouro e a conta final vai depender do comportamento das taxas de juros no futuro.
Um estudo preliminar publicado pelo banco em junho estimou esse custo em pelo menos R$ 30 bilhões. O economista Mansueto de Almeida, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), calcula que ele seja superior a R$ 10 bilhões neste ano.
O trabalho divulgado na semana passada deixa a questão em aberto. O BNDES afirma que preferiu fazer assim porque não há consenso entre os economistas do banco sobre a melhor maneira de calcular o custo do subsídio.
O estudo afirma que os empréstimos feitos pelo BNDES com o dinheiro do Tesouro proporcionarão ganhos de R$ 79 bilhões na forma de impostos que o governo vai arrecadar e lucros que o banco poderá repassar ao Tesouro.

HIPÓTESE HEROICA
Várias suposições foram feitas para que se chegasse a esse número. Um dos pressupostos é que 74% dos investimentos financiados pelo banco não teriam saído do papel se o governo tivesse ficado de braços cruzados durante a crise internacional.
"É uma hipótese heroica", diz o economista-chefe do Banco Santander, Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central. "A maior parte desses recursos foi liberada quando a oferta de crédito já estava se recuperando."
O BNDES também estima que cada R$ 1 investido com sua ajuda acrescentaria R$ 1,50 ao PIB (Produto Interno Bruto) do país, um efeito multiplicador que os críticos do banco acham exagerado para as condições atuais.
"Algo nessa escala pode ter ocorrido no auge da crise, quando a ociosidade na economia era maior, mas o efeito seria muito menor hoje, com a economia crescendo mais perto do limite", diz o professor Samuel Pessôa, da FGV (Fundação Getulio Vargas).


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