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BNDES infla números, dizem críticos
Critérios adotados em estudo sobre a atuação do banco valorizam os ganhos proporcionados por empréstimos
Trabalho realça benefícios sem calcular custo de subsídios que reforçaram cofres da instituição na crise
RICARDO BALTHAZAR
DE SÃO PAULO
Um estudo apresentado na
semana passada para defender o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) contra os
ataques que ele vem sofrendo foi recebido com ceticismo pelos críticos do banco.
Na quinta-feira, o ministro
da Fazenda, Guido Mantega,
e o presidente do banco, Luciano Coutinho, exibiram o
trabalho como prova de que
os benefícios gerados pelo
BNDES superam o custo pago pelo país para subsidiar as
empresas que ele financia.
Mas o estudo não oferece
nenhuma estimativa desse
custo e adota premissas que
contribuem para inflar os ganhos obtidos com os projetos
financiados pelo banco oficial, argumentam os críticos.
Desde o ano passado, o governo injetou R$ 180 bilhões
nos cofres do BNDES, dinheiro que o Tesouro tomou emprestado na praça para que o
banco o repassasse cobrando
taxas de juros inferiores às
das instituições comerciais.
O custo dessa operação
para o governo é difícil de
calcular, porque o BNDES levará décadas para devolver
os recursos que recebeu do
Tesouro e a conta final vai depender do comportamento
das taxas de juros no futuro.
Um estudo preliminar publicado pelo banco em junho
estimou esse custo em pelo
menos R$ 30 bilhões. O economista Mansueto de Almeida, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada),
calcula que ele seja superior
a R$ 10 bilhões neste ano.
O trabalho divulgado na
semana passada deixa a
questão em aberto. O BNDES
afirma que preferiu fazer assim porque não há consenso
entre os economistas do banco sobre a melhor maneira de
calcular o custo do subsídio.
O estudo afirma que os empréstimos feitos pelo BNDES
com o dinheiro do Tesouro
proporcionarão ganhos de
R$ 79 bilhões na forma de impostos que o governo vai arrecadar e lucros que o banco
poderá repassar ao Tesouro.
HIPÓTESE HEROICA
Várias suposições foram
feitas para que se chegasse a
esse número. Um dos pressupostos é que 74% dos investimentos financiados pelo
banco não teriam saído do
papel se o governo tivesse ficado de braços cruzados durante a crise internacional.
"É uma hipótese heroica",
diz o economista-chefe do
Banco Santander, Alexandre
Schwartsman, ex-diretor do
Banco Central. "A maior parte desses recursos foi liberada quando a oferta de crédito
já estava se recuperando."
O BNDES também estima
que cada R$ 1 investido com
sua ajuda acrescentaria
R$ 1,50 ao PIB (Produto Interno Bruto) do país, um efeito
multiplicador que os críticos
do banco acham exagerado
para as condições atuais.
"Algo nessa escala pode
ter ocorrido no auge da crise,
quando a ociosidade na economia era maior, mas o efeito
seria muito menor hoje, com
a economia crescendo mais
perto do limite", diz o professor Samuel Pessôa, da FGV
(Fundação Getulio Vargas).
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