São Paulo, quinta-feira, 22 de setembro de 2011

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ANÁLISE MERCADOS

Fluxos financeiros impactam os preços de commodities

PAULO PICCHETTI
ESPECIAL PARA A FOLHA

O debate acerca da necessidade de aumento da regulação dos derivativos ligados a commodities em geral continua em diferentes frentes. Dentro do órgão regulador norte-americano, a Commodity Futures Trading Commission, uma conferência de dois dias tratou da discussão sobre trabalhos acadêmicos ligados ao tema. Um dos artigos recebeu grande atenção: "Investor Flows and the 2008 Boom/Bust in Oil Prices", do professor Kenneth Singleton, da Universidade de Stanford.
O artigo é um guia para os perplexos em meio ao debate. De um lado, existem os que acreditam que as oscilações de preços nos principais mercados são derivadas essencialmente da evolução de seus fundamentos reais e da administração de estoques. Do outro, estão aqueles que creditam aos fluxos de investimentos em mercados futuros e derivativos uma parcela significativa das variações dos preços correntes dos produtos em questão.
Em princípio, a discussão deveria ser solucionada por modelos econométricos especificados de forma a filtrar os efeitos individuais de cada um desses fatores sobre as variações de preços, à medida que análises baseadas em correlações simples normalmente perdem robustez ao não considerar as inter-relações entre o conjunto amplo de variáveis.
Qual é então a natureza da controvérsia? Um componente fundamental dos modelos teóricos que norteiam a especificação estatística usada para testar as diferentes hipóteses é o processo de formação de expectativas sobre preços.
Os modelos que dão suporte ao papel dos fundamentos nas oscilações de preços são derivados a partir de hipóteses envolvendo "agentes representativos" que formam suas expectativas a partir do futuro em um conjunto de informações publicamente disponível.
As diferenças entre elas não têm impacto sistemático sobre o grau de acerto nas previsões, o que resulta em um mercado precificando corretamente os preços futuros, a não ser por erros puramente aleatórios.
Os modelos que consideram agentes heterogêneos produzem resultados diferentes: no curto prazo, existem ganhos derivados da previsão não com relação aos fundamentos do mercado, mas com relação às previsões feitas pelos outros investidores.
O resultado é que o impacto de novas informações a respeito de qualquer aspecto real do mercado tende não só a amplificar as oscilações dos preços mas também a causar desvios com relação às trajetórias de convergência para os preços efetivos no futuro. O desenvolvimento teórico desses modelos ainda não está completo, e sem dúvida seria beneficiado por um aumento da transparência com relação às informações sobre o tipo de investidor que detém os contratos futuros de preços nesses mercados.
Essa é uma das propostas ligadas à regulação, e sua implementação parece muito menos problemática do que, por exemplo, a imposição de limites para transações, enquanto o benefício sobre o grau de racionalidade do debate é evidente.

PAULO PICCHETTI, 48, doutor em economia pela Universidade de Illinois, é professor da EESP/FGV e coordenador do IPC-S/Ibre/FGV.


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