São Paulo, sábado, 22 de outubro de 2011 |
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cifras & letras CRÍTICA EMPRESA Livro mostra como a General Motors virou uma financeira Ex-vice-presidente diz que empresa embarcou no negócio de fazer dinheiro
GABRIEL BALDOCCHI COLABORAÇÃO PARA A FOLHA Uma fábrica de TVs ganha dinheiro com os televisores. Certo. A venda de refrigerantes gera lucro à Coca-Cola. Certo. Uma montadora obtém ganhos com a venda de carros. Errado. Em "Car Guys vs. Bean Counters", o ex-vice-presidente da GM Bob Lutz explica como a empresa passou de uma produtora de veículos a uma financeira. Sob a máxima do reduzir custos e aumentar receitas, a companhia mergulhou, nas palavras de Lutz, no negócio de fazer dinheiro, em que os carros eram simplesmente uma forma transitória. Ele endossa a necessidade de resgatar a excelência dos carros ao retomar a GM dos anos 1950, que tinha 50% do mercado americano. Grandes designers eram semideuses naquele tempo. Eram arrogantes e lideravam a "ditadura dos produtos". As coisas mudam a partir dos anos 1980, quando executivos do setor financeiro tomam o lugar de engenheiros e introduzem a "gestão profissional". O vínculo emocional do autor com o negócio de carros ganha até tom de desabafo quando reivindica mais isonomia da mídia na comparação com os japoneses. A relação com a imprensa e a rivalidade com os nipônicos, aliás, estão presentes por toda a obra e são ponto alto pela espontaneidade. É quando o autor parece praticar o que preza nos negócios e o que vislumbrara retomar na GM: uma gestão menos racional e mais emocional. Racionalidade que faltou aos novos executivos para identificar uma luz vermelha na lucratividade do braço financeiro da GM em 2008. O impressionante desempenho da divisão escondeu a ineficiência da venda de veículos. Mas, movida a crédito imobiliário, a área sucumbiria com o estouro da bolha. A descrição sobre a derrocada da companhia é enfática. Com a crise, as vendas de veículos de passeio, que já iam mal, ficaram ainda piores. Mas o que afundou a GM foi a escalada do petróleo. Em 2008, a gasolina subiu de US$ 2 para US$ 4,50 o galão em poucos meses e enterrou o segmento dos grandes veículos, sua maior fonte de receitas. Situação agravada pela pressão de caixa. Lutz, entretanto, é negligente ao falar da crise. Assume seu erro ao se desculpar pela ausência de detalhes sobre o período. São minúcias que fazem falta. A falha é recompensada com a clareza do relato sobre o processo de recuperação. Podia parar por aí. No último capítulo, ele toma a liberdade de ensaiar quais decisões teria tomado se, em vez de vice-presidente, tivesse sido o presidente-executivo na última década. Escorrega na autopromoção que não raro assola os livros de negócios. Trata-se de uma tentativa de provar que o executivo era ponto destoante da cúpula que levou a GM ao buraco. Pelo livro ou não, Lutz é considerado hoje um bastião dos produtos no setor e presta consultoria à própria GM. CAR GUYS VS. BEAN COUNTERS AUTOR Bob Lutz EDITORA Portfolio/Penguin QUANTO US$ 26,95 ou US$ 12,99 em e-book (256 págs.) AVALIAÇÃO Bom Texto Anterior: Análise: Liminar contra aumento de IPI de veículo importado resgata princípio constitucional Próximo Texto: Bibliográfico Índice | Comunicar Erros |
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