São Paulo, domingo, 23 de janeiro de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Família tenta manter força na Odebrecht

Antes de ir à Justiça, sócia minoritária sugeriu a controladores acordo para garantir participação em empresas do grupo

Interesse dos Gradin é recuperar influência nas áreas das quais foram afastados, petróleo e petroquímica

RICARDO BALTHAZAR
DE SÃO PAULO

A família que foi à Justiça disputar sua fatia no grupo Odebrecht indicou no ano passado que estava disposta a reduzir sua participação nos negócios do conglomerado para se concentrar em duas áreas que considera especialmente promissoras.
A intenção da família Gradin era assegurar posições de maior influência na Braskem, o braço petroquímico do grupo, e na Odebrecht Óleo e Gás, empresa criada recentemente para construir e operar plataformas de exploração de petróleo no mar.
A ideia foi cogitada depois que a família Odebrecht propôs mudanças nas regras estabelecidas para a convivência com seus sócios minoritários e indicou que planejava pôr para fora os Gradin, que participam dos negócios do grupo há quatro décadas.
Pessoas que acompanharam de perto as negociações entre eles dizem que a proposta nunca foi discutida a sério, mas nos últimos dias ela voltou a ser analisada como uma opção para superar o desentendimento que esgarçou o relacionamento entre os dois clãs empresariais.
Se a ideia fosse levada adiante, os Gradin se distanciariam de negócios tradicionais, como a construtora, que está na origem do grupo, e passariam a controlar diretamente participações individuais no capital da Braskem, onde a Odebrecht hoje divide o controle com a Petrobras.

DESGASTE
Os Odebrecht são donos de 62,3% das ações da empresa que controla o grupo, fundado na década de 40 pelo engenheiro Norberto Odebrecht, hoje com 90 anos de idade. Os Gradin têm 20,6%, e as outras ações pertencem a executivos da organização.
Em outubro do ano passado, depois de meses de discussões infrutíferas, o presidente do grupo, Marcelo Odebrecht, comunicou aos Gradin que havia decidido recomprar suas ações e afastá-los da sociedade. Os Gradin reagiram movendo uma ação contra os Odebrecht na Justiça baiana em dezembro.
O acordo de acionistas que disciplina as relações entre os sócios da Odebrecht permite que os controladores comprem as ações dos minoritários em determinadas situações, mas os Gradin afirmam que os Odebrecht agiram ilegalmente no seu caso.
Eles querem que a Justiça obrigue o grupo a aceitar a mediação de um árbitro independente para discutir suas diferenças, hipótese prevista pelo acordo de acionistas. Uma primeira audiência para discutir o assunto foi marcada pela Justiça para 23 de fevereiro, em Salvador.
Nos últimos dias, a exposição das divergências entre as famílias pela imprensa fez representantes dos dois lados começarem a procurar bancos e outros parceiros da Odebrecht, para evitar que o desgaste entre os sócios alimente desconfianças sobre o futuro do grupo.
Ninguém acredita que a disputa terá uma solução rápida. Além de rejeitar as mudanças propostas pela família Odebrecht, que enfraqueceriam a posição dos sócios minoritários do grupo, os Gradin não gostam dos critérios empregados pelo grupo para avaliar seus ativos.

POTENCIAL
O acordo de acionistas do grupo determina que todo ano o banco Credit Suisse faça uma avaliação dos seus negócios e calcule o valor a ser pago pelos controladores pela parte dos sócios minoritários que quiserem sair.
No ano passado, o grupo foi estimado em US$ 7,4 bilhões pelo banco, o que daria aos Gradin o direito de receber da Odebrecht US$ 1,5 bilhão pela sua parte. Mas eles dizem que essa avaliação não levou em consideração o potencial de vários negócios que o grupo começou a desenvolver recentemente.
Como se baseou nos números de 2009, o Credit Suisse também deixou de incluir eventos que valorizaram os ativos do grupo em 2010, como a aquisição da Quattor pela Braskem e a entrada do fundo de Cingapura Temasek na Odebrecht Óleo e Gás.
O envolvimento pessoal dos Gradin com essas empresas é outro elemento importante na disputa. Bernardo, o filho mais velho de Victor Gradin, presidiu a Braskem nos últimos dois anos e meio e iniciou o seu processo de expansão internacional.
Seu irmão Miguel captou financiamento de várias fontes externas para a Odebrecht Óleo e Gás e fechou com a Petrobras os contratos das primeiras cinco plataformas que a empresa irá operar. Por causa da disputa com os Odebrecht, os dois irmãos foram afastados da direção das empresas em dezembro.


Texto Anterior: Vinicius Torres Freire: Mágicas e milagres de Dilma
Próximo Texto: Saiba mais: Patriarca dos Gradin está no grupo desde 74
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.