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Brasil fica isolado na guerra cambial
Especialistas não acreditam que ação coordenada seja aprovada pelo G20
Com forte entrada de dólares, real se aprecia ainda mais, enquanto China mantém sua moeda subvalorizada
SHEILA D'AMORIM
DE BRASÍLIA
Um dos mais prejudicados
com a guerra cambial deflagrada no mundo, o Brasil esbarra na falta de apoio à proposta de uma solução articulada entre países que evite a
valorização excessiva das
moedas.
Nem mesmo os parceiros
tradicionais do Bric (grupo
integrado ainda por Rússia,
Índia e China) falam a mesma língua quando o assunto
é conter os desequilíbrios
cambiais.
O problema -amplamente debatido, mas sem consenso na reunião anual do
FMI no início deste mês- foi
empurrado para o encontro
do G20, em novembro. No entanto, dificilmente haverá espaço para avanços nessa
área, já que as economias estão em patamares diferentes
e cada um está mais preocupado com a sua própria situação.
O Brasil sabe que, por
aqui, essa questão tende a se
agravar diante da perspectiva de aumento do ingresso
de dinheiro externo para projetos do pré-sal e obras para a
realização da Olimpíada e da
Copa do Mundo. Com isso, a
apreciação cambial já é
apontada dentro do governo
como o principal desafio do
sucessor do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva logo no
início do mandato.
Ainda assim, na reunião
de ministros da Fazenda do
G20, que acontece neste final
de semana na Coreia do Sul e
serve para pautar o debate
dos presidentes em novembro, o Brasil não estará representado pelo ministro Guido
Mantega.
Na reta final da campanha
eleitoral, Mantega decidiu ficar no país. A assessoria do
ministro justificou sua ausência afirmando que ele
acabou de voltar de uma viagem internacional para participar do encontro do FMI, e
que não vai ao G20 para
acompanhar a questão cambial daqui.
Depois de adotar medidas
para desestimular o ingresso
de capital estrangeiro no
país, o ministro trocou o debate no fórum internacional,
no qual os emergentes ganharam força com a crise financeira de 2008, por conversas telefônicas.
Nesta semana, Mantega
tratou da guerra cambial
com o secretário do Tesouro
dos EUA, Timothy Geithner,
e com o diretor-gerente da
Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy.
De Geithner o ministro disse ter obtido o compromisso
de que os EUA não vão adotar políticas que desvalorizem mais o dólar. Já com
Lamy, o assunto foi sobre
câmbio e comércio. Segundo
a Folha apurou, Lamy explicou que a OMC tem regras
que podem ser invocadas caso os países avaliem que as
intervenções cambiais prejudicam o comércio mundial.
PREOCUPAÇÃO
A preocupação das autoridades brasileiras é que, na
ausência de uma ação coordenada no mundo, países como o Brasil terão que partir
para soluções mais radicais
para tentar evitar que a apreciação da sua moeda gere desequilíbrio internos.
Esse é também o receio de
muitos investidores, ressaltado na mídia internacional.
O "Financial Times" destacou que a atuação recente do
governo brasileiro deixou a
impressão de que poderão vir
mais medidas.
"Não vejo nenhum cenário
realista de medidas coordenadas no mundo", diz Márcio Holand, professor da
Fundação Getulio Vargas.
Para ele, 2011 será um ano
complicado e o próximo presidente terá que tomar medidas de controle fiscal severo,
logo na primeira hora, para
abrir espaço para redução da
taxa de juros e, com isso, ajudar na desvalorização do real
diante do dólar.
Ele defende que o governo
use medidas mais extremas,
como quarentena ou mesmo
proibir temporariamente algumas operações estrangeiras no país. "É uma guerra
declarada. Se o governo deixar, o câmbio estará entre
R$ 1,20 e R$ 1,30 no final do
ano que vem", prevê.
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