São Paulo, quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

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PF investiga outras empresas de Silvio

Hipótese é de que desvio ocorria em empresas não financeiras do grupo do apresentador, fora do controle do BC

Dinheiro fora do PanAmericano seria retirado em simulação de prestação de serviços pelos diretores do banco

MARIO CESAR CARVALHO
DE SÃO PAULO

Auditores, economistas e advogados que remexem na contabilidade do PanAmericano em busca de explicações para o rombo de R$ 2,5 bilhões não detectaram até agora desfalques dentro do banco de Silvio Santos.
A hipótese mais provável, compartilhada por auditores e delegados da Polícia Federal, é que os diretores do banco tenham desviado dinheiro das empresas não financeiras de Silvio Santos.
Essa hipótese baseia-se na constatação de que pelo menos três ex-diretores do banco têm um patrimônio incompatível com os salários de R$ 50 mil, sem bônus, baixos para o setor.
A escolha das empresas não financeiras tem um sentido estratégico, na visão dos investigadores: elas não são monitoradas pelo Banco Central, o que dificulta a descoberta de eventuais desvios.
Entre outros controles, o BC exige exige relatórios trimestrais de bancos, que poderiam fornecer pistas sobre a inconsistência de dados.
O dinheiro das empresas não financeiras era retirado por meio de simulação de prestação de serviços pelos diretores do banco, de acordo com a apuração em curso.
Três dos diretores do PanAmericano também eram diretores de outras empresas de Silvio Santos, como a Baú Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários, a Silvio Santos Factoring e o Consórcio PanAmericano, numa lista que chega a duas dezenas de empresas. A PF vai concentrar sua investigação nessas empresas.
O trio seria composto por Rafael Paladino, ex-superintendente, Wilson Roberto de Aro, ex-diretor financeiro, e Adalberto Savioli, ex-diretor de crédito, segundo os investigadores.
Com notas aparentemente frias, eles retiraram cerca de R$ 70 milhões das empresas não financeiras de Silvio Santos, segundo um levantamento ainda não concluído ao qual a Folha teve acesso. Especialistas envolvidos na apuração acreditam que esse valor não deve ultrapassar a casa dos R$ 100 milhões.
Para quem olha só os dados contábeis, é quase um crime perfeito, define um advogado envolvido na apuração, já que os recursos retirados pelos diretores saíram de outras empresas.

SOFTWARE
Os auditores ficaram impressionados com a sofisticação do software usado para maquiar a contabilidade. O funcionamento foi revelado pelo chefe da contabilidade do PanAmericano, Marco Antonio Pereira da Silva, que decidiu colaborar com a PF.
O esquema de fraude é o mesmo descoberto pelo Banco Central em setembro: o PanAmericano vendia carteiras de crédito para outros bancos, mas não dava baixa, o que fazia crer que a instituição tinha mais recursos a receber do que o fluxo real.
O PanAmericano fatiava os crediários e os vendia para bancos diferentes. Imagine um cliente que comprou um carro usado em 48 prestações mensais. O PanAmericano dividia essas 48 prestações em quatro e vendia um pedaço desse crédito para quatro bancos diferentes.
Quando surgia um rombo, o software fazia uma busca aleatória nos créditos vendidos, arranjava os valores necessários e apresentava-os como se não estivessem em mãos de outro banco.


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