São Paulo, quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

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commodities

China vai investir para depender menos do minério de ferro da Vale

Decisão foi anunciada ontem pela associação chinesa de ferro e aço, durante seminário em Pequim

Gigante asiático se queixa da política de preço adotada pelas três grandes produtoras mundiais do metal

FABIANO MAISONNAVE
DE PEQUIM

Descontente com a política de preço da Vale e das outras duas grandes produtoras mundiais de minério de ferro, a China acelerará ainda mais os investimentos para a extração do minério em jazidas dentro e fora do país, afirmou ontem a Associação de Ferro e Aço da China (Cisa, na sigla em inglês).
"A China está pronta para expandir a produção de minério de ferro", disse o vice-presidente da Cisa, Luo Bing Sheng, num seminário em Pequim. "É a única forma para que a China tenha posição nas negociações. Quando tivermos mais produção, teremos mais poder para negociar o preço e para falar."
Luo estimou que, neste ano, 40% das importações virão de minas controladas por empresas chinesas, ante 30% no ano passado. Já seria o resultado de investimentos feitos nos últimos dois anos em Brasil, África e Austrália, entre outros.
A China também investe nas minas do país, embora o minério seja de baixa qualidade e pouco competitivo.
"Dentro de dois anos, fornecedores e compradores terão de sentar e negociar", previu Luo. "Se os fornecedores mantiverem posição inflexível, perderão mercado."
Segundo números da Cisa, o preço do minério de ferro subiu 60,74% em 2010, reduzindo a margem de lucro das siderúrgicas chinesas.
Apesar das reiteradas críticas do seu principal cliente, a Vale diz que está satisfeita com o sistema de reajuste trimestral de preços, implantado no ano passado.
"O mercado está muito dinâmico. Então você precisa ter um sistema mais flexível do que o anual", afirmou ontem o diretor da Vale José Carlos Martins, por meio da assessoria de imprensa.

MUDANÇAS NO MERCADO
Presente no seminário, o economista David Hale disse que os investimentos chineses, principalmente no oeste africano, mudarão o cenário atual, de hegemonia da Vale, da australiana BHP e da anglo-australiana Rio Tinto.
"O poder do Brasil e da Austrália vai cair dentro de 3 a 5 anos. Em 2015, já será um mercado completamente diferente", disse Hale, colaborador do jornal "Financial Times" e presidente da consultoria David Hale Global Economics.
Hale disse que só o Brasil estuda limitar investimentos chineses em mineração. "A Austrália permitiu, nos últimos dois anos, 82 investimentos chineses, num total de US$ 44 bilhões. Eles apenas restringiram um investimento, em minérios raros."
"Eu não vejo nenhum perigo para o Brasil. Haverá mais produção e haverá mais empregos", afirmou Hale.
O minério exportado pela Vale teve grande peso na balança do ano passado. Segundos dados do Ministério do Desenvolvimento, o Brasil exportou US$ 13,3 bilhões do produto para a China.
A operação foi a mais importante do comércio externo: equivale a 65% do superavit de US$ 20,3 bilhões.
Apesar do faturamento 70% maior na venda de minério de ferro para a China na comparação com 2009, o volume exportado baixou de 158 milhões para 145 milhões de toneladas, queda de 8%. É essa a tendência que a China quer para os próximos anos.
No ano passado até setembro, a China foi responsável por 34,6% da receita da Vale, permanecendo como o principal cliente da maior empresa exportadora do país.
No terceiro trimestre, a participação da China subiu para 46% do total.


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