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Classe C compartilha cartão de crédito
Consumidores de baixa renda se ajudam na hora de gastar, obter crédito, poupar e fazer orçamento doméstico
Emprestar cartão de amigos e familiares e comprar fiado são alternativas no mundo informal das finanças
DE SÃO PAULO
Kézia Teodoro, secretária
de Carapicuíba que trabalha
em uma empresa de engenharia, empresta e pega emprestado o cartão de crédito
das amigas do escritório. O
"clube" informal já tem até
nome: "Empresta Aí".
Eliane de Paula Marques,
ex-frentista e dona de casa da
Freguesia do Ó, vende o vale-refeição para completar o orçamento da família e ajudar o
marido nas despesas de casa.
Pedro dos Santos Junior,
dono de mercearia no Parque
Bristol, aumentou o faturamento de seu negócio ao vender fiado a clientes do bairro
da zona leste paulistana.
As regras que valem para
Kézia, Eliane e Pedro -e milhares de consumidores das
classes C, D e E (com renda
familiar até dez salários mínimos, pelo conceito da FGV)
-seguem lógica diferente
das que regem a economia
formal: a solidária.
Nessa realidade econômica paralela são parentes e
amigos que ocupam, em parte, o papel que bancos e financeiras têm para as classes
AB na relação com finanças.
Até ganhar tempo para pagar contas vira crédito. Não é
à toa que quatro em cada dez
consumidores da classe D
(renda familiar de um a três
mínimos) compraram fiado
entre setembro e fevereiro
deste ano, segundo pesquisa
do instituto Data Popular, especializado em baixa renda.
"Comprar fiado significa
obter crédito para conseguir
fechar as contas do mês e não
se endividar. Em vez de o
banco conceder esse crédito,
quem dá é o dono do mercado, a manicure, o vendedor
de produtos de limpeza que
vai de porta em porta", afirma Renato Meirelles, sócio-diretor do instituto.
"É uma relação de confiança e de reciprocidade, bem
diferente da lógica impessoal
e distante que esse consumidor encontra em um banco."
A distância desse consumidor para o mundo formal
das finanças ainda é tão
grande que outra pesquisa
da WMcCann mostra que
parcela expressiva da classe
C (36%) ainda não tem nem
conta-corrente. O levantamento considera casais com
renda mensal de R$ 1.000 a
R$ 2.000 em cinco capitais.
Quando o orçamento aperta, esses consumidores não
têm dúvida a quem recorrer.
"Uso o cartão de minha mãe,
e ela, o meu", diz o cabeleireiro David Gomes Martins.
O Data Popular estima que
ao menos 14 milhões costumam emprestar cartão de
crédito a parentes e amigos
-10 milhões deles estão na
classe C.
(CLAUDIA ROLLI)
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