São Paulo, segunda-feira, 24 de maio de 2010

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Classe C compartilha cartão de crédito

Consumidores de baixa renda se ajudam na hora de gastar, obter crédito, poupar e fazer orçamento doméstico

Emprestar cartão de amigos e familiares e comprar fiado são alternativas no mundo informal das finanças

DE SÃO PAULO

Kézia Teodoro, secretária de Carapicuíba que trabalha em uma empresa de engenharia, empresta e pega emprestado o cartão de crédito das amigas do escritório. O "clube" informal já tem até nome: "Empresta Aí".
Eliane de Paula Marques, ex-frentista e dona de casa da Freguesia do Ó, vende o vale-refeição para completar o orçamento da família e ajudar o marido nas despesas de casa.
Pedro dos Santos Junior, dono de mercearia no Parque Bristol, aumentou o faturamento de seu negócio ao vender fiado a clientes do bairro da zona leste paulistana.
As regras que valem para Kézia, Eliane e Pedro -e milhares de consumidores das classes C, D e E (com renda familiar até dez salários mínimos, pelo conceito da FGV) -seguem lógica diferente das que regem a economia formal: a solidária.
Nessa realidade econômica paralela são parentes e amigos que ocupam, em parte, o papel que bancos e financeiras têm para as classes AB na relação com finanças.
Até ganhar tempo para pagar contas vira crédito. Não é à toa que quatro em cada dez consumidores da classe D (renda familiar de um a três mínimos) compraram fiado entre setembro e fevereiro deste ano, segundo pesquisa do instituto Data Popular, especializado em baixa renda.
"Comprar fiado significa obter crédito para conseguir fechar as contas do mês e não se endividar. Em vez de o banco conceder esse crédito, quem dá é o dono do mercado, a manicure, o vendedor de produtos de limpeza que vai de porta em porta", afirma Renato Meirelles, sócio-diretor do instituto.
"É uma relação de confiança e de reciprocidade, bem diferente da lógica impessoal e distante que esse consumidor encontra em um banco."
A distância desse consumidor para o mundo formal das finanças ainda é tão grande que outra pesquisa da WMcCann mostra que parcela expressiva da classe C (36%) ainda não tem nem conta-corrente. O levantamento considera casais com renda mensal de R$ 1.000 a R$ 2.000 em cinco capitais.
Quando o orçamento aperta, esses consumidores não têm dúvida a quem recorrer. "Uso o cartão de minha mãe, e ela, o meu", diz o cabeleireiro David Gomes Martins.
O Data Popular estima que ao menos 14 milhões costumam emprestar cartão de crédito a parentes e amigos -10 milhões deles estão na classe C.
(CLAUDIA ROLLI)

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