São Paulo, segunda-feira, 24 de maio de 2010

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China planeja 2 mi de chineses nas obras em Angola

Com investimento de US$ 9 bi, asiáticos transferem 100 mil trabalhadores para canteiros de obras no país

Cresce sentimento contra mão de obra chinesa em Angola, onde desemprego pode chegar a 30%

AGNALDO BRITO
ENVIADO ESPECIAL A ANGOLA

O caminhoneiro Zhang Chun Guang pilota um caminhão carregado de asfalto. Ele espera a vez, enquanto gesticula e balbucia algo que se supõe: "Não falo português". Nem precisava.
Zhang é parte de um grande plano estratégico dos chineses para ocupação econômica e demográfica de Angola, cujo objetivo é obter petróleo e exportar gente.
O governo de Angola não se pronuncia, mas circula no país a informação de que a China, o maior parceiro angolano, pretende colocar, em dez anos, 2 milhões de pessoas na emergente economia africana. Quantidade equivalente a 10% da população.
Estima-se que a China já levou ao país mais de 100 mil pessoas e, diferentemente de outros parceiros comerciais, a grande massa é de trabalhadores como Zhang.
Na letra da lei, Angola não permite que nenhum projetos com capital estrangeiro no país possua mais de 30% de mão de obra expatriada.
A Folha procurou o governo para que comentasse a relação com a China, mas não obteve resposta.
A avaliação é que os US$ 9 bilhões em capital chinês (parte a juros subsidiados) dão aos chineses condição diferenciada em Angola.
"Há projetos em que os chineses representam mais de 50% da mão de obra contratada", diz Raimundo Lima, presidente da Assembleia da Associação de Empresários e Executivos Brasileiros em Angola.
Essa situação tem criado certo mal-estar em Angola, país que, apesar do forte crescimento econômico, ainda convive com grande massa de desempregados.
A taxa oficial de desemprego é de 22,5%, mas estudos apontam pelo menos 30%.

DESEMPREGO
Basta observar a capital, Luanda, para perceber que o desemprego é algo crônico. Em qualquer via congestionada, centenas de angolanos oferecem de tudo no trânsito, de ternos mal cortados a pães dispostos em cestos enormes no meio da poeira.
A presença maciça da mão de obra da China, confinada em canteiros, começa a nutrir a percepção de que trabalhadores chineses com baixa qualificação ocupam espaço de angolanos.
Muitos são ex-guerrilheiros que participaram da luta clandestina contra os portugueses e na guerra civil entre as organizações armadas pela controle do país, no MPLA (que saiu vitorioso), na Unita ou no FNLA.


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