São Paulo, segunda-feira, 24 de maio de 2010

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FINANÇAS PESSOAIS

MARCIA DESSEN - marcia.dessen@bmibrasil.com.br

Lição aprendida: é possível cortar gasto e recomeçar

DEZEMBRO DE 1989. Decidi que já era tempo de mudar. Decidi que já havia aprendido bastante, trabalhando em uma grande corporação internacional e que tinha a oportunidade de compartilhar toda minha experiência e aprendizado com outras pessoas.
Educar era das coisas que me dava muito prazer e que fui aprendendo a fazer ao longo da minha carreira.
Desligar-me de uma grande empresa após mais de 20 anos de carreira bem-sucedida, abrir mão de sobrenome corporativo, de um cargo de vice-presidente e de todos os benefícios dele decorrente, aprender a viver com renda instável e que dependeria do meu sucesso como empreendedora eram desafios que eu estava disposta a enfrentar.
Avaliei que recursos poupados por tanto tempo, investidos em bancos seguros, podiam financiar essa nova fase da minha vida até que minha empresa decolasse e meu fluxo de renda, ainda que variável, fosse novamente restabelecido.
Eu não sabia, mas a vida ainda me reservava uma grande lição a aprender.
Março de 1990. Três meses após ter tomado uma das decisões mais difíceis da minha vida, o governo anuncia um plano econômico que bloqueia o acesso dos cidadãos ao dinheiro depositado em bancos.
Nem a sagrada caderneta de poupança foi poupada. Todos os recursos que eu tinha para viver, e sobreviver, legitimamente meus, poupados exclusivamente com o esforço do meu trabalho, estavam bloqueados.
O espanto foi tamanho que, apesar de toda a minha experiência por trabalhar na área de finanças, em pleno coração do mercado financeiro, demorei uns três dias para entender o que estava acontecendo e quais seriam os impactos nas minhas finanças e na minha vida.
Refeita da surpresa, entendi que meu fluxo de renda havia cessado e que todas as minhas reservas estavam bloqueadas.
Fui ao banco sacar o que era permitido, NCz$ 50 mil, equivalentes a US$ 1.300 ao câmbio da época, e me dei conta de que era pouco, bem menos do que recebia como executiva onde trabalhava.
Minhas despesas continuavam a chegar normalmente. Mensalidade escolar, condomínio, plano de saúde e todas as despesas necessárias para morar e para viver.
Pela primeira vez na vida me sentei, rodeada de papéis, fichas, extratos e contratos para listar, uma a uma, as grandes e as pequenas, todas as despesas que compunham o meu orçamento.
Sabia, antes de começar, que os NCz$ 50 mil não eram suficientes, mas me dei conta de que gastava muito mais do que imaginava e que eu podia simplificar e viver com muito menos.
Foi o que fiz. Cortei despesas, reduzi outras, renegociei condições de pagamento.
Realizei um prejuízo grande para liberar parte dos recursos bloqueados, pois, mesmo com todos os cortes no orçamento, os NCz$ 50 mil, eram insuficientes para dar conta do orçamento da minha família.
Fui procurar emprego e começar tudo outra vez. Projeto de vida adiado e colocado em execução três anos depois.
Maio de 2010. Sou a nova colunista da Folha. E temos um encontro marcado, toda segunda-feira, para conversar sobre finanças pessoais.
Para escrever ou falar sobre qualquer assunto, é preciso vivência, credibilidade, autenticidade.
Com minha história contada, quero convidá-lo(a) a conversar francamente sobre um dos últimos tabus de nossa sociedade: dinheiro.
Ensinar as pessoas a lidar melhor com o dinheiro tem sido minha bandeira desde então e compartilho o meu aprendizado sempre que tenho oportunidade.
Espero que a minha história possa inspirar a sua.


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