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FINANÇAS PESSOAIS
MARCIA DESSEN - marcia.dessen@bmibrasil.com.br
Lição aprendida: é possível cortar gasto e recomeçar
DEZEMBRO DE 1989. Decidi que já era tempo de mudar. Decidi que já havia
aprendido bastante, trabalhando em uma grande corporação internacional e que
tinha a oportunidade de
compartilhar toda minha experiência e aprendizado com
outras pessoas.
Educar era das coisas que
me dava muito prazer e que
fui aprendendo a fazer ao
longo da minha carreira.
Desligar-me de uma grande empresa após mais de 20
anos de carreira bem-sucedida, abrir mão de sobrenome
corporativo, de um cargo de
vice-presidente e de todos os
benefícios dele decorrente,
aprender a viver com renda
instável e que dependeria do
meu sucesso como empreendedora eram desafios que eu
estava disposta a enfrentar.
Avaliei que recursos poupados por tanto tempo, investidos em bancos seguros,
podiam financiar essa nova
fase da minha vida até que
minha empresa decolasse e
meu fluxo de renda, ainda
que variável, fosse novamente restabelecido.
Eu não sabia, mas a vida
ainda me reservava uma
grande lição a aprender.
Março de 1990. Três meses
após ter tomado uma das decisões mais difíceis da minha
vida, o governo anuncia um
plano econômico que bloqueia o acesso dos cidadãos
ao dinheiro depositado em
bancos.
Nem a sagrada caderneta
de poupança foi poupada.
Todos os recursos que eu tinha para viver, e sobreviver,
legitimamente meus, poupados exclusivamente com o
esforço do meu trabalho, estavam bloqueados.
O espanto foi tamanho
que, apesar de toda a minha
experiência por trabalhar na
área de finanças, em pleno
coração do mercado financeiro, demorei uns três dias
para entender o que estava
acontecendo e quais seriam
os impactos nas minhas finanças e na minha vida.
Refeita da surpresa, entendi que meu fluxo de renda
havia cessado e que todas as
minhas reservas estavam
bloqueadas.
Fui ao banco sacar o que
era permitido, NCz$ 50 mil,
equivalentes a US$ 1.300 ao
câmbio da época, e me dei
conta de que era pouco, bem
menos do que recebia como
executiva onde trabalhava.
Minhas despesas continuavam a chegar normalmente. Mensalidade escolar,
condomínio, plano de saúde
e todas as despesas necessárias para morar e para viver.
Pela primeira vez na vida
me sentei, rodeada de papéis, fichas, extratos e contratos para listar, uma a uma,
as grandes e as pequenas, todas as despesas que compunham o meu orçamento.
Sabia, antes de começar,
que os NCz$ 50 mil não eram
suficientes, mas me dei conta
de que gastava muito mais
do que imaginava e que eu
podia simplificar e viver com
muito menos.
Foi o que fiz. Cortei despesas, reduzi outras, renegociei
condições de pagamento.
Realizei um prejuízo grande para liberar parte dos recursos bloqueados, pois,
mesmo com todos os cortes
no orçamento, os NCz$ 50
mil, eram insuficientes para
dar conta do orçamento da
minha família.
Fui procurar emprego e começar tudo outra vez. Projeto
de vida adiado e colocado em
execução três anos depois.
Maio de 2010. Sou a nova
colunista da Folha. E temos
um encontro marcado, toda
segunda-feira, para conversar sobre finanças pessoais.
Para escrever ou falar sobre qualquer assunto, é preciso vivência, credibilidade,
autenticidade.
Com minha história contada, quero convidá-lo(a) a
conversar francamente sobre
um dos últimos tabus de nossa sociedade: dinheiro.
Ensinar as pessoas a lidar
melhor com o dinheiro tem
sido minha bandeira desde
então e compartilho o meu
aprendizado sempre que tenho oportunidade.
Espero que a minha história possa inspirar a sua.
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